quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Recuperado de um moleskine (25)


Às vezes, abro um livro de poemas
de um poeta morto: é uma forma
de lhe fazer uma visita inesperada;
de ouvi-lo, pelo meio de palavras suas.
Mas a idade traz consigo a crueldade
do cepticismo, a intolerância dura,
desactualizadas distâncias de estilo,
o abusivo desrespeito sobre ingénuas
palavras de outro tempo, que releio.
Retira-se o poeta compungido
da minha presença. É bem possível
que eu fique envergonhado por minutos.
Mas depressa me esqueço para sempre
e o poeta também vai à sua morte.

7 comentários:

  1. Não acho que aconteça sempre assim. Sucede mais com poeta menores. E até connosco mesmos, com palavras que escrevemos e mais tarde achamos tão sem propósito. Eu devia escrever diários porque os acho depois muito engraçados. O que me preocupava, os sonhos, os desejos, algumas reflexões e momentos mais sem graça. Vou-me propor escrever um diário este ano. Estou em tempo que ainda não existe lista de propósitos:). Há assim umas coisinhas verdes a despontar da terra e que podem vir a ser algo que tenha nome (que não é ferrero rocher), se não congelarem antes. Está visto que hoje vesti um espírito de primavera por baixo dos abafos de inverno
    Bom Dia:)

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  2. Nunca tive um moleskine, mas não deve fazer diferença. Há um caderninho que faz as vezes. Portanto, sítio de palavras, já tenho:) e escrever também sei. Suponho que o faço em nome de todos os que na minha família foram roubados à escola. Ler e escrever qb é saldo de dívida familiar. A vida toda não me vai chegar, mas o entendimento dos mortos é supremo.

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    1. Os poetas menores acabam por ser a grande maioria porque, de primeira água e com rigor, não devemos ter mais que 10 grandes poetas lusos...
      Eu creio que estas considerações (em soneto prosaico de 14 versos) me foram despoletadas pela leitura do "Cancioneiro" (1858-66) de João de Lemos, que teve nome e fama na sua época.
      Acho que faz muito bem dar testemunho do que vai vivendo.
      Um bom dia, também.

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  3. Gostei do seu soneto.
    Só li João de Lemos (há já uns anitos) porque viveu no Campo Grande. Mas até gostei de alguma da sua poesia até porque se ficássemos reduzidos aos grandes...
    Bom dia!

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    1. Obrigado, MR.
      Tenho de concordar, humildemente, que há alguns secundários muitíssimo estimáveis de ler..:-)
      Bom dia!

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