quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Apontamento 173: Wolf Biermann

 


Numa sequência do Apontamento anterior sobre a construção do muro, em 1961, que isolou o “sector soviético = antiga RDA” do resto da Alemanha, durante décadas do restante território conhecido pela RFA.

Verificou-se uma circunstância relevante para o esclarecimento da época do domínio da SED, na antiga RDA, com uma entrevista, publicada recentemente  pelo jornal DIE ZEIT, ao compositor, músico e cidadão de intervenção, Wolf Biermann

Wolf Biermann nasceu, em 1936, em Hamburgo, filho de judeu (morto em Auschwitz) e comunista, segundo consta da seguinte página de biografia: https://www.wolf-biermann.de/

O músico mudou para a RDA, em 1953, tendo sido proibido pelo regime de então de actuar no ano de 1965. Após uma actuação em Colónia, em 1976, tiraram-lhe a cidadania, passando a viver, entre outros, em Hamburgo, na Alemanha.

Wolf Biermann, profundo conhecedor da realidade do antigo sector soviético da Alemanha, forneceu umas breves máximas sobre a actual realidade política, cultural e social dos Estados da antiga RDA, a saber, a Turíngia, o Saxe e o Brandemburgo, com eleições previstas para o Outono.

Assim, Wolf Biermann considera, portanto, que muitos cidadãos da antiga RDA têm um problema com a Democracia. Segundo ele, os “cobardes passaram a rebeldes a viver numa democracia sem riscos. Lamentam-se das comodidades perdidas como colaboracionistas da SED  e os inerentes desafios da DEMOCRACIA que lhes estão completamente estranhos.”

Como cereja em cima do Bolo, Wolf Bierman consegue uma máxima que considero uma caracterização ímpar e de elevado sentido democrático: “o casal político do momento é Wagenknecht und Höcke”.

A saber, Sara Wagenknecht, do movimento com o seu nome BSW, antiga deputada do partido DIE Linke, “herdeira do Estalinismo do Comunismo Nacional, e Höcke, herdeiro do Nacionalsocialismo de Hitler”. Obviamente, não seria capaz de fazer uma síntese tão breve e esclarecedora. São anos de vivência e capacidade de observação e síntese.

Relativamente aos Estados da Alemanha, com eleições próximas: Turíngia, Saxónia e Brandemburgo, a que o cidadão Biermann se refere, apenas acrescento que são território de uma cultura antiga: Jena, Weimar, Leipzig, Dresden ….

O que haveria de responder a uma pergunta, oportuna, de uma pessoa de estima, questionado sobre o descalabro reaccionário de zonas tidas por berços de cultura ?.

Wolf Biermann responde: “o ódio e os ataques soezes serão transmitidos até à segunda ou terceira geração, em famílias com uma árvore genealógica totalitária e um enxerto democrático recente”.

Palavras de sabedoria que terminamos com uma canção de Wolf Biermann.

https://youtu.be/hbesjvJdQMY

Pot de HMJ

2 comentários:

  1. Exatamente! Não é fácil as pessoas terem vivido sob uma ditadura e passarem a viver em Liberdade de um dia para o outro. Fica-lhes sempre aquela saudade (não percebo como, mas é verdade) por um chefe autoritário, seja no trabalho seja na política. Com um autoritário não piam, não reivindicam: o respeitinho é muito bonito.
    Para mudar mentalidades é preciso mais do que uma geração.
    O que me espanta é o que se passa em países com grandes tradições democráticas e liberais.
    Bom dia!

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    1. De HMJ para MR
      Pena é que a Educação (entidades e agentes) não se concentrem no essencial, a saber, promover o pensamento autónomo e crítico, ao serviço do bem comum, em vez de apostar em temas de pura publicidade do momento. Já o Senhor Sonae pretendia dizer aos professores como deviam ensinar, i.e., fornercer-lhe empregados submissos.

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