segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O bonito, o belo e o feio


O bonito gera mais amplos consensos de agrado, em Arte, do que o feio, quando representado. Para, esteticamente, apreciarmos o "feio" é sempre necessário ultrapassarmos alguns obstáculos pessoais, sociais e até, por vezes, de cânone consagrado no Tempo. É muito mais fácil gostar ou aceitar a pintura dos pré-rafaelitas, do que admirar a obra de um Chaim Soutine ou de Francis Bacon. Pelo meio ficarão decerto Munch, Lucian Freud ou Paula Rego, e tantos outros pintores. Comecei pela Pintura, para chegar a outra arte. O poema (traduzido por João Barrento, para a Relógio d'Água) que vou transcrever, foi escrito por Gottfried Benn (1886-1956), escritor alemão que exerceu medicina, civilmente e no exército alemão. É, na minha opinião, um bom poema, embora possa não ser considerado "bonito". Intitula-se "Kleine Aster" (Pequena Sécia). Aqui fica:

Um carroceiro afogado foi içado para cima da mesa.
Alguém lhe tinha enfiado entre os dentes
Uma sécia, de um lilás claro-escuro.
Quando, a partir do peito,
por debaixo da pele,
lhe arranquei a língua e o palato
com uma grande faca,
devo ter-lhe tocado, porque ela escorregou
para o cérebro que estava ao lado.
Meti-lha na caixa torácica,
no meio das aparas de madeira,
quando o cosiam.
Bebe no teu vaso até à saciedade!
Descansa em paz
Pequena sécia!

5 comentários:

  1. O belo, o bom e o verdadeiro. Creio que há uma beleza e bondade intrínsecas a tudo o que é verdadeiro. A verdade nunca é feia. Pode ser dura, desagradável, desesperante, demolidora [e mais adjectivos começados pela letra «d» :-)] mas feia, não creio...

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  2. Não acho este poema, à primeira leitura, propriamnete belo. Pode ser que reincidindo...

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  3. c.a., acho que há verdades terríveis (sociais, políticas, humanas, etc.), que eu não classifico nem no bom, nem no belo. No verdadeiro, sim.

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  4. Minhas Amigas,
    por uma vez, é-me difícil tomar posição face aos pertinentes comentários (que agradeço)que fizeram. E isto porque, ao fazer o texto do poste, apenas tive em linha de conta a Arte (toda ela) e o gosto ou não-gosto de quem a "recebe" ou aprecia.
    Quase toda a Poesia e Pintura expressionista alemã são "feias", porque os tempos foram ruins. E a verdadeira Arte, no meu entender, deve reflectir o seu Tempo.

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  5. Em aditamento e abono do que disse, atrás, lembrei-me (não posso citar rigorosamente, porque estou fora do meu "escritório" habitual)de uma frase exemplar do pintor espanhol Millares (?)que diz (traduzindo) mais ou menos isto: "O quadro foi parido assim, porque foi feito num tempo feio".

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