domingo, 14 de março de 2021

Do que fui lendo por aí... 42

 


Do lido, registe-se, depois de traduzido:

... Vejo claramente a razão desta duplicidade: um político de direita e um político de esquerda, se são desprovidos da qualidade essencial de um homem de Estado: a imaginação criadora, são levados a praticar o mesmo tipo de política, porque eles são um e outro a marioneta do acontecimento que eles não dominam e os domina. (pg. 369)

... Esta geração mascarada de óculos escuros não suporta a luz. Ela mergulha directamente nas trevas. Apenas algumas velhas águias ousam olhar ainda o sol de frente. (pg. 377)

... Em relação a um ponto, os Franceses mudaram: já não se consideram o umbigo do planeta, o que os torna ainda mais obstinados a agarrarem-se ao seu interesse imediato e a procurarem a sua vantagem mais positiva. (pg. 381)

François Mauriac (1885-1970) in Bloc-notes I, 1952-1957.

6 comentários:

  1. A pag 369 deixa-me a pensar nos dias de hoje :(
    Bom dia

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  2. Ainda jovem adolescente lia Mauriac, mas nunca este Bloc-notes I.
    Desejo uma boa semana menos confinada.

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    1. Também o frequentei bastante e com grande proveito. Continuo a considerá-los um dos grandes escritores franceses do século XX.
      Cordialmente, retribuo.

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  3. Fui, pela primeira vez, a França, em 1971, e detestei os franceses. Eles ainda se consideravam o umbigo do mundo. Só perderam aquela altivez quando o francês deixou de ser a segunda língua mais falada. Estavam tão cheios de si que não perceberam que as pessoas já não aprendiam francês, que eles tinham de falar outras línguas para além da sua... e não investiram no ensino do francês fora de portas. É pena, porque os 'intelectuais' franceses pensam bem e pouca gente os lê.
    Entretanto os franceses (e até os parisienses!) estão muito cordiais.
    Bom domingo!

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    1. As minhas primeiras e únicas (Setembro de 1963) experiências de uma semana parisiense não foram famosas: pouca limpeza (em sentido lato), muito oportunismo (táxis, por exemplo), casas degradadas (património excluído, claro), esnobismo generalizado, mesmo dos lumpen (que muitos havia, nessa altura), sobranceria cultural. Tive 2 amigos, um deles franco-arménio (de segunda geração, como o Aznavour), que eram outra louça.
      O pensamento françês é invejável de claridade: Bergson, por exemplo.
      E os escritores salvaram as impressões negativas. E que escritores!: Verlaine, John-Perse, Char e, quanto a prosadores - Mauriac, Camus, Vaillant, Simone de Beauvoir, um nunca mais acabar...
      Mas é verdade que, por natureza, sempre fui mais anglófilo..:-)
      Um bom resto de Domingo!

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