domingo, 16 de agosto de 2020

Apontamento 138: Hipocrisia






A hipocrisia, o fingimento e a dissimulação são, na sua essência, vícios humanos que revelam, sobretudo, falta de carácter e, quiçá, capacidade de discernimento.

O cenário hipócrita de alguns partidos políticos, apoiados, claro está, pelo Bastonário da Ordem dos Médicos e outros quejandos, não engana, nem deixa sossegado o cidadão,  profundo conhecedor da assistência à velhice, tanto a nível europeu como nacional, e indignado com o aproveitamento perverso da situação em lares espalhados pelo país.

Diga-se: basta de tanto aproveitamento e de tanta impunidade perante estes HIPÓCRITAS.

Não foi no tempo dos “pafunços” que se propagou a ideia, com justificação da  “troika”, como anteriormente o fez um Senhor Cavaco, que os velhos estavam a mais ? Houve algum registo de tantos lares ilegais espalhados pelos país, em vivendas sem nenhuma indicação por fora, disfarçando os antros de morte ?

Se o Senhor Bastonário dos Médicos desconhece o universo dos lares ilegais, devia estar calado em vez de fazer afirmações tolas como tem sido a sua postura. Pergunta-se, então, quem passa as certidões de óbito, frequentes, ocorridos nesses espaços inqualificáveis ? A certidão não terá a assinatura de uma pessoa com formação em medicina, havendo  a obrigatoriedade de reportar cenas e instalações inqualificáveis ? Quartos de dormir, de 16 m2, com camas ocupadas por mulheres e homens? É agora que o Senhor Bastonário dos Médicos e a dos Enfermeiros acordam para uma realidade há muito conhecida ?

E os partidos políticos -  CDS e PSD – ora muito incomodados, o que fizeram no tempo dos governos de Cavacos e Pafunços ? Andaram pelos subúrbios de Lisboa – e do Porto e pelo país fora – a identificar e registar os lares ilegais para terem agora alguma legitimidade para falar?

Aliás, já naquela altura era só começar a dar uma volta pelo país e, como último recurso, perguntar às pessoas da “terra”. Toda a gente sabe onde estão os chamados “lares baratos”, escondendo autênticas casas da morte.

No entanto, e com a autoridade de falar em causa própria, conhecendo uma boa e uma péssima assistência na velhice, é preciso desfazer a maior hipocrisia, a saber, a das famílias que, em primeiro lugar, são as principais responsáveis pelos cuidados escolhidos na fase final da vida do idoso. Parece que estão calados nem ratos !

Não vale a pena a pessoa enganar-se. A opção por uma boa assistência ao familiar idoso implica, em muitos casos, o desfazer da fortuna – móvel ou imóvel – acumulada pelo próprio ao longo da sua vida. A opção humanamente responsável é, de facto, que ela seja usada em seu benefício quando o idoso mais precisa de cuidados e que a família já não lhe pode proporcionar.

A hipocrisia é, sobretudo, de não falar dos familiares, como os primeiros responsáveis pela escolha e verificação das condições de assistência aos idosos.

Com todo este discurso perverso, digo que já não aguento tanta hipocrisia !

 Post de HMJ

6 comentários:

  1. Concordo como que diz. Devia haver mais cuidado e atenção com os idosos. Mais vigilância. Eles deram-nos tanto e nós agora temos obrigação de os recompensar, reconhecendo o que fizeram por nós e tentando que tenham uma velhice confortável. A família, ou o estado...mas uma velhice DIGNA é o mínimo que se devia exigir para todos os velhinhos.

    Desejo-lhe uma boa semana:))

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    1. Para a Isabel:
      A defesa da dignidade, própria e a dos outros, é um imperativo maior.

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  2. Quando era miúda, em Algés, visitei com a minha mãe uma prima num lar onde a mesma tinha sido entregue aos "cuidados" deste pelos filhos. Sendo eu miúda (e já pós '74) fiquei impressionada com o número de camas e especificamente a da prima, que estava enfiada na lareira da sala. Outra impressão desagradável a do cheiro no ar... e este era um lar supostamente bom, para quem tinha meios. E sim, cabe aos familiares serem a primeira linha. Temos falado diversas vezes disso lá em casa quando passa a reportagem sobre o de Reguengos. E a velhota, de 84, que agora está connosco e há uns anos dizia querer ir para um lar, e ficava zangada quando o filho dizia "nem pensar", agora arrepia-se com as reportagens e números. Deve haver alguns bons lares (espero eu), mas a grande maioria tem ar de ser mediano ou mau!
    Temos que cuidar do passado, só assim se pode considerar um bom futuro!
    Boa semana

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    1. Para PNLima:
      Só quem tenha a experiência de ter visto lares, desde as antecâmaras da morte até a instituições com padrões de profissionalismo impecáveis, sabe bem do que está a falar e do grau - ou ausência - da responsabilidade familiar, como diz, de primeira linha.

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  3. Há muitos anos uma amiga andava a visitar lares para instalar um familiar. Um amigo dela, médico, disse-lhe: «Se na entrada te cheirar a urina, não entres.»
    Quando começaram os contágios nos lares, lembrei-me logo do que se passaria nos lares ilegais.
    Esses fulanos que emagreceram a administração pública deixando-lhe só os ossos, agora vociferam que não há médicos e enfermeiros suficientes, nem inspetores, nem polícias, etc. Claro que não! Só não privatizaram a saúde toda e a segurança social porque não conseguiram e os funcionários que se reformaram durante anos não foram substituídos. Como esses agentes culturais que não querem descontar para a segurança social, mas querem os benefícios de quem desconta. Agora o Estado dá-lhes jeito - para eles e para esses liberaizecos «menos Estado, pouco Estado». Hipócritas!
    Boa semana!

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    1. PAra MR:
      Agredeço o seu comentário esclarecedor para quem tenha ainda dúvidas sobre os responsáveis ora transformados em defensores dos velhinhos !

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