domingo, 29 de abril de 2018

Auden e o romance policial


É interessante constatar que vários poetas conhecidos e celebrados (entre nós, Fernando Pessoa é o caso mais exemplar) eram leitores e se interessavam por romances policiais. Não me recordo, no entanto, de muitos que tenham abordado a temática, de forma aprofundada. W. H. Auden (1907-1973) é uma excepção. No seu livro de ensaios, The Dyer's Hand, dedica nove páginas ao assunto, com vários sub-capítulos, abordando: O Meio, A Vítima, O Assassino, Os Suspeitos, O Detective... Sobre esta última personagem de ficção, elege os seus detectives preferidos: Sherlock Holmes (criado por A. Conan Doyle), o Inspector French (Freeman Wills Croft) e o Padre Brown (G. K. Chesterton).



Curiosamente, Poirot (criado por Agatha Christie) não é referido, e Philo Vance (S. S. van Dine) e Lord Peter Wimsey (Dorothy L. Sayers) são descartados, por excessivamente presumidos (priggish). Quanto a mim, Sherlock Holmes incorreria no mesmo pecado. Auden diz ainda que: " In his sexual life, the detective must be either celibate or happilly married" (pg. 111) - o que achei, no mínimo insólito, mas interessante.



Estranhei também que Maigret (Simenon) nunca fosse referido no texto.
Mas estarei de acordo naquilo que será um dos motivos de atracção dos leitores pelos romances policiais, segundo Auden: " I suspect that the typical reader is, like myself, a person who suffers from a sense of sin" (pg. 114).
No fundo, e em certo sentido, a noção íntima e enraízada do conceito de pecado original, de que a Bíblia se faz eco, nas figuras ancestrais de Adão, Eva e de Caim.


6 comentários:

  1. Quero ver se leio o Padre Brown - só conheço da série de TV. Os meus detectives preferidos são o Poirot, a Miss Marple, o Sherlock Holmes e o Nero Wolfe. Mas acho que leio livros policiais pelo mistério e pelo raciocínio. Bom Domingo!

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    1. Julgo que a curiosidade de ver resolvido um enigma, ao longo da intriga policial, também terá a sua parte nessa atracção do leitor.
      Retribuo, cordialmente.

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  2. Foi através da senhora aqui de casa que cheguei aos policiais, sendo a excepção Patricia Highsmith e o seu Ripley. Neste preciso momento anda a ler S.S. Van Dine e "O Crime do Escaravelho", um escritor que desconhecia e que estou a adorar pela temática e fórmula construída da intriga.
    A forma como Pessoa abordou o policial através do seu decifrador Quaresma, foi uma surpresa para mim.
    Bom domingo!

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    1. Pena que S. S. van Dine tenha escrito tão poucos policiais, porque era um Mestre nisso. Escolho "Os Crimes do Bispo", pelo engenho da trama, como o meu favorito.
      Um bom resto de Domingo.

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  3. Não conheço Freeman Wills Croft, que parece não estra traduzido em português. :(
    Acima de todos, gosto do Maigret, melhor: de Simenon. E depois de Agatha Christie e dos seus Poirot e Tommy e Tuppence.
    Boa semana!

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    1. Do Croft, creio que já o li, em português, mas não o consigo localizar, mas na "Vampiro" não há nada.
      Não vou muito com a Agatha e os meus policiais favoritos são do S. S. van Dine.
      Retribuo, cordialmente.

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