quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Antologia 9

 

Pouco ou nada frequentada actualmente, com toda a certeza, a poesia de António Diniz da Cruz e Silva (1731-1799) que, na Arcádia Lusitana, se subscrevia por Elpino Nonacriense, e que já teve honras de programa liceal, em tempos antigos, através do seu poema herói-cómico O Hyssope (1802), ainda que fosse apenas parcialmente lido. Nas suas poesias líricas completas, em 6 volumes, podemos ainda encontrar alguns poemas de fino gosto e originalidade, como um soneto, por exemplo, em que descreve uma viagem marítima atribulada (ver Arpose, 1/2/2010, Salão de Recusados VIII: Cruz e Silva), entre Portugal e o Brasil. Foi no Brasil, aliás, que o poeta faleceu. Formado em Leis, foi no País-irmão que colaborou, com outros juízes, no julgamento dos acusados da Inconfidência Mineira (1789), que incluíam poetas e conhecidos seus, como Cláudio Manuel da Costa, Tomás António Gonzaga e Alvarenga Peixoto.
Mas passemos ao cerne desta Antologia, transcrevendo o início do II Canto de O Hyssope, da edição de 1821, editada em Paris, "na Officina de P. N. Rougeron, Rua de L'Hirondelle, Nº 22". Assim consta:

Reinava a doce paz na sancta Igreja;
O Bispo, e o Deão, ambos conformes
Em dar, e receber o bento Hyssope,
A vida em ocio santo consumiam.
O bom vinho de Málaga, o presunto
Da célebre Montanche, as galinholas,
As perdizes, a rola, o tenro pombo,
O gran'chá de Pekin, e lá da Méca*
O cheiroso café, em lautas mesas,
Do tempo a maior parte lhes levavam;
E o restante, jogando exemplarmente,
Ou dormindo, passavam sem senti-lo.
(...)

* Há edições que trazem: "de Moka".

2 comentários:

  1. O tipógrafo ou quem preparou essas edições devia estar com uma grande moca... 😂😂😂
    Boa noite!

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