terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Quevedo


Olhei os muros desta pátria minha,
outrora fortes, hoje derrubados
pelo curso da idade tão cansados
por onde se esmorece a valentia.
Saí ao campo, vi que o sol bebia
os ribeiros, do gelo libertados;
e do monte, queixosos iam gados,
que em sombras lhes cerrou a luz do dia.
Entrei na minha casa; envelhecida
a velha habitação já só ruínas;
meu cajado mais curvo e menos forte.
Vencida pela idade vi Espanha
que fora minha, não senti mais nada
e digna de ser vista só a morte.

Nota: Francisco de Quevedo y Villegas (1580-1645) acompanhou, ao longo da sua vida, o apogeu e grandeza de Espanha, mas também, com grave preocupação a  progressiva decadência. A sua obsessão pessoal para com a morte, física, e prévia debilidade corporal aliam-se, neste soneto, de forma admirável.

7 comentários:

  1. Lembro-me dele das histórias do capitán Alatriste, de Arturo Pérez-Reverte---

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  2. Um destes dias, tenho que procurar esse livro, porque do Reverte só li "O Clube Dumas" de que, aliás, gostei bastante. Quanto ao Quevedo, considero-o um dos grandes poetas (e não só) peninsulares.

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  3. Bem os livros (são vários, o último dos quais de 2011) do capitão Alatriste são literatura juvenil. Os três mosqueteiros para menores de 15 anos (enfim, talvez esteja a exagerar e aquilo tenha segundos sentidos para quem gosta e está informado da história europeia e luso-espanhola).
    De Pérez-Reverte posso recomendar muita coisa, entre os quais o mais recente "O Assédio" (belo e grosso romance histórico). Vibrei com "O mestre de esgrima". Tremi com "A rainha do Sul". Vivi horas de ansiedade com "Cemitério dos barcos sem nome". E roí as unhas com "A tábua de Flandres".
    Completamente diferente é "O pintor de batalhas". Odeio dizê-lo, mas achei um deserto a evitar.

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  4. Do último que refere, li uns excertos e também não me entusiasmou.
    Agradeço-lhe as restantes dicas que irei ter em conta.

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  5. Agora, emocionei-me. Ao ler este soneto (sobretudo, os 4 primeiros versos), vi Portugal agora, ou como o vejo, desde há uns anos a esta parte. E tenho receio, que um dia, também eu, não venha a sentir mais nada. Bom, acho que não, mas tenho vindo a sentir uma certa distância, não posso negar...É um não me reconhecer nas atitudes, nos comportamentos, na forma como as coisas são feitas,...

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  6. É da História..:-(
    É curioso também notar que a vida de Quevedo ocupa exactamente (1580-1640) o período da dominação catelhana de Portugal, coincidindo uma parte com o apogeu espanhol (Filipe I) e o começo da decadência (Filipe III, o quarto de Espanha).
    Creio que uma das coisas que mais me aflige, nestas novas gerações, é uma ausência total de portuguesismo (evitei chamar-lhe patriotismo, que éuma palavra um pouco inquinada). Ou são puros apátridas, ou americanados até ao tutano.

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  7. Uma pequena correção: Quevedo morreu em 1645.

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