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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Despojos e nostalgia


As casas, hoje em dia, são pequenas e, normalmente, apenas andares onde desaguam as coisas de família. Tornam-se exíguas, para tanto passado e memória. O espaço nimba-se de uma claustrofobia irritante, por onde a circulação acaba por se tornar difícil.
O acto solene da leitura de um testamento e a venda em leilão do acervo de alguém conhecido, despertam em mim, quase sempre, um semelhante tipo de sensações, mistas de expectativas singulares, melancolia e desconforto físico, difícil de explicar.
A firma de leilões do Correio Velho começou a leiloar, a 4 e termina a 7 de Dezembro de 2018, uma parte do acervo pictórico de Victor Palla (1922-2006), em almoeda anunciada.
E a mesma sensação estranha toma conta de mim...


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Leituras Antigas XLII


Creio que poderei dizer que me despedi, saciado, da infância, bem como da adolescência. Costumo até dizer, por ironia, que tive uma infância feliz. Porque raramente regresso a esse paraíso artificial ou ao fetichismo mental dos seus brinquedos, filmes ou livros. Embora, aquando da infanto-adolescência dos meus filhos, o tenha feito por obrigação afectuosa. Mas foi - diria - a despedida final, a cerimónia dos adeuses.
É possível, no entanto, que por vezes haja pequenas e fortuitas recaídas na compra de pequenas coisas, livros, postais de um tempo passado. Talvez mais até pelo seu lado estético, como estes dois Vampiros Magazines, dos anos 50, com belíssimas capas de Cândido Costa Pinto, com influência surrealista. Para não falar das traduções de Victor Palla dos contos de cariz policial, que estes pequenos livros encerram.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Lembrete 18


Aqui há muitos anos atrás, num ronceiro ferro-velho vimaranense (ou conimbricense?), que também costumava ter louças, móveis e livros, e que eu visitava, muito raramente, deparei-me com esta primeira edição (Vagão "J") de Vergílio Ferreira. O livro, truncado, tinha sofrido tratos de polé, não tinha capas e faltavam-lhe as primeiras 8 páginas, que teriam sido arrancadas. Fiquei indeciso, mas acabei por perguntar o preço - uma ninharia, disse-me o homem. E acabei por o trazer de bónus, com um rústico, mas bonito, prato roseiro, que lá comprei, na altura. Fiz-lhe umas capas artesanais, onde rabisquei uns desenhos pueris que, em nada, se comparavam à interessante capa, original, de Victor Palla. E assim ficou o livro, incompleto, na biblioteca.
Por isso, eu não poderia ficar indiferente a esta edição fac-similada. O Lembrete é que já vai tarde, porque o livro saiu ontem, com o jornal Público. Mas talvez ainda seja possível adquiri-lo, quem o quiser...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Bibliofilia 87


Estas edições iniciais, com as capas em imagem, de "Uma Abelha na Chuva", de Carlos de Oliveira (1921-1981), não são muito frequentes em aparecer à venda - quem as tem, chama-lhes suas... Porque, além do Escritor fazer grandes revisões aos textos, foram ilustradas por dois dos maiores capistas portugueses. 
A 1º edição (1953), impressa na Coimbra Editora, tem capa de Victor Palla. A segunda edição, de 1960, publicada pela Editora Ulisseia, foi ilustrada por Sebastião Rodrigues sobre fotografia de António Sena da Silva. A terceira capa, a vermelho e dourado, pertence a uma edição especial de 1.600 exemplares ( o meu, assinado por Carlos de Oliveira, tem o nº 1.546), editada pela Limiar (Porto), em 1976, com 6 guachos de Júlio Pomar, concebidos para o efeito.
A título de curiosidade, lembro que Fernando Lopes (1935-2012), em 1971, realizou um filme homónimo, baseado nesta obra de Carlos de Oliveira.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Vestir os Livros


Exibicionistas ou paupérrimas, berrantes ou banalíssimas, de uma indigência estética enorme, as capas dos livros portugueses perderam toda a beleza que os revestiu, quase sempre, no século XX. De Alberto de Souza a Sebastião Rodrigues, do clássico Bernardo Marques ao inovador Victor Palla, os nossos livros eram revestidos de capas lindíssimas e atraentes. Por onde andarão os grafistas e capistas portugueses de qualidade, hoje em dia? Creio que se poderão contar pelos dedos de uma mão, com boa vontade, os herdeiros dos magníficos antepassados, porque não lhes merecem o nome de sucessores...
Neste Dia Internacional do Livro e dos Direitos de Autor, foi este o tema que escolhi para o celebrar. Reproduzindo, com desenhos de Bernardo Marques, as capas de 4 dos primeiros volumes da original colecção Miniatura, da Editora Livros do Brasil, que ainda hoje dá gosto manusear. Porque foram lindamente vestidos, com creatividade e beleza.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Capas com gosto


Não faço na menor ideia por onde anda o gosto estético da grande maioria dos actuais capistas gráficos portugueses. Se calhar, nunca o tiverem. Mas, se o têm, deve andar pelas ruas da amargura, do mau gosto chineleiro. É evidente que Sebastião Rodrigues e Victor Palla eram únicos. Mas mesmo outros capistas, mais modestos em génio, nos anos 60 e 70, faziam capas estimáveis que não envergonhavam ninguém. Hoje copia-se (mal) o que há (de pior) lá fora. E, se calhar, ficam todos contentes, editoras inclusive, com o (péssimo) trabalho feito. Primam a foleirice e o quitche mais parolo e provinciano, sobretudo.
O bom gosto, antigamente, era quase obrigatório nas capas de obras de autores conhecidos, até porque eles se empenhavam, também, nisso. Lá fora, como em Portugal. Das muito sóbrias capas dos romances de Aquilino, da Bertrand, às inovadoras e mais exuberantes capas modernas de Cardoso Pires. Mas todas primavam pelo predomínio de um nítido equilíbrio estético, que acompanhava os conteúdos de qualidade. Lá fora, a preocupação era idêntica, mesmo que a edição fosse modesta  e popular, como se pode ver pelas capas inglesas e americanas (anos 50/60), que deixo em imagem, a encimar este poste.
Porque, hoje em dia, contemplar as montras das livrarias portuguesas (Bertrand, ao Chiado, inclusive), quase me dá vontade de vomitar. Esteticamente - quero eu dizer.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

90 anos


Nascido a 16 de Novembro de 1922 (bem como José Saramago, como o amigo Blogue Prosimetron recordou), José-Augusto França completa, hoje, 90 anos. Crítico e historiador de Arte, a sua faceta de ficcionista é menos conhecida. Por isso aqui deixamos a capa da 2ª edição de "Natureza Morta", com um belo trabalho gráfico de Victor Palla, executado para a Arcádia, em 1961. A obra publicada, inicialmente, em 1949, é um dos poucos romances portugueses, de tom existencialista, tendo por cenário Angola.

sábado, 17 de março de 2012

Ele há horas felizes!...


Roubei o título deste poste a um estribilho dos cauteleiros que vendiam lotaria pela ruas e nos cafés, para tentar eventuais fregueses à compra de jogo. Já há muito que não ouço este grito aliciador, até porque, hoje em dia, os cauteleiros já são poucos. Mas, se o estribilho era apenas uma hipótese remota de sorte grande para o comprador, o título usado aqui, por mim, é num sentido afirmativo.
Estes pequenos magazines, na imagem, eram uma espécie de irmãos mais novos e mais pequenos da Colecção Vampiro, da Livros do Brasil , que começou a ser editada no final dos anos 40 do século passado. O Vampiro magazine começou a publicar-se pouco depois. De Março de 1950 é o primeiro número e tem, portanto, 62 anos de idade. Creio que se publicaram cerca de 30 números. Ainda comprei, no Porto, na minha adolescência, uns cinco ou seis exemplares diferentes. Novos, custavam Esc. 5$00, mas usados ficavam mais baratos, e apareciam, pouco, em quiosques-tabacarias que os vendiam em segunda mão. Mas, depois e em Lisboa, nunca mais vi nenhum à venda.
Eram apetecíveis pelo grafismo sugestivo das capas, de Cândido da Costa Pinto, que denotava alguma influência surrealista, mas também bom gosto estético. O conteúdo, com algumas traduções probas de Victor Palla, era muito informativo e diversificado. Os Vampiro magazines começavam por dar, em cada número, uma resenha biográfica e bibliográfica dos escritores policiais mais em voga ( Ellery Queen, Carter Dickson, Agatha Christie, S. S. van Dine, Dorothy Sayers, Georges Simenon...). Incluíam 5 a 6 contos policiais, traduzidos por Victor Palla. E ainda publicavam mistérios-problemas detectivescos, para os leitores resolverem, além de notícias várias e curiosidades sobre a temática.

Pois há dias, numa "hora feliz", e em Campo de Ourique, num pequeno alfarrabista, deparei-me com cerca de duas dezenas de Vampiros magazines, em óptimo estado e a preço convidativo. Comprei treze e, pela quantidade, fizeram-me desconto: paguei 12,00 euros, por todos. Ele há horas felizes!...

sábado, 12 de novembro de 2011

Livrinhos 1 : Victor Palla


Os livrinhos foram-me oferecidos, aqui há uns anos, por ms. A sugestão de os mostrar veio de uma rubrica de MR, no Prosimetron (Livros Miniatura). Começo por Victor Palla (1922-2006), arquitecto de profissão (a traça de alguns snacks, em Lisboa, é dele, como por exemplo "O Galeto"), mas também designer inspirado, fotógrafo ("Lisboa, Cidade Triste e Alegre", 1959), pintor, ceramista, escritor. Os 2 livrinhos são de 1978 e a concepção gráfica, aliás excelente, é de Victor Palla, bem como os textos, muito curtos. Lembram Abandono Vigiado (1960), de Alexandre O'Neill. A impressão é da Ler, editora, e julgo não ser muito frequente encontrá-los à venda.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Traduções


É George Steiner (1929) quem o diz: "O texto implica, entre o autor e o respectivo leitor, a promessa de um sentido". Ora, existe, por vezes, um intermediário, um terceiro elemento: o tradutor, sempre que se trata de um livro numa versão produzida para outra língua. Cuja responsabilidade é enorme.
Recentemente li, em tradução de Victor Palla (1922-2006), um magnífico conto de William Faulkner (1897-1962), com o título "Os Velhos". E, pela exemplaridade limpa da tradução, bem como através do tema, recordei-me de uma novela de Hemingway, "O Velho e o Mar", traduzida, impecavelmente, por Jorge de Sena. São dois relatos, em prosa, cuja escrita eu apelidaria de profundamente "masculina" - se me for permitido classificá-los assim.
O conto de Faulkner ilustra, metaforicamente, a iniciação de um adolescente no mundo dos homens adultos, mediante a caça e abate de um veado. "O Velho e o Mar" encaro-o como uma parábola sobre a Vida. O sonho e o vazio final. O gigantesco peixe em luta com o pescador e que chega a terra, depois de apresado, apenas como um esqueleto, devorado pelos outros peixes, no regresso.
São sobretudo duas excelentes traduções que asseguram a tal "promessa de um sentido" de que fala Steiner.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

H. B., post-scriptum



"Eu nada tenho contra os animais. Pelo contrário, gosto deles e agrada-me acariciar, à noite, a pele do nosso cão, enquanto o gato se vem sentar no meu regaço. Dá-me prazer ver os meus filhos a alimentar a tartaruga ao canto da sala de estar. Até mesmo o hipopotamozinho, que temos na banheira, conquistou um lugar no meu coração e os coelhos, que correm livremente pela casa, há muito que não me enervam. De resto, estou habituado a encontrar, à noite, visitas inesperadas: um pintainho pipilante ou um cão vadio que minha mulher quis recolher. É que minha mulher é uma boa alma, não escorraça ninguém da porta, homem ou animal, e há muito que à oração da noite dos nossos filhos se juntou esta flor de retórica: «Senhor, envia-nos mendigos e animais»..."

Heinrich Böll (1917-1985), (início de) Os Hóspedes Inesperados (Arcádia, 1960).