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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Regionalismos poveiros I



Há oito ou nove lugares no Mundo que me atravessaram a vida e que eu conservo afectuosamente na memória. Dos portugueses, a Póvoa de Varzim, onde passei muitos agostos da existência, em férias, é um deles, que me traz recordações felizes. E, por isso, alguma bibliografia tenho nas estantes da minha biblioteca sobre essa cidade que era apenas vila quando por lá andei, na infância e adolescência.
Recentemente, e através da Livraria Lumière, adquiri uma obra, de feição regionalista, com crónicas de José de Azevedo (1935), intitulada Poveirinhos pela graça de Deus (2007), nomeada assim por um diálogo que se travou entre poveiros e o rei D. Luís, no alto mar, e da resposta que os pescadores deram ao monarca português, quando este lhes perguntou a origem.
O livro lê-se muito bem e contém um glossário poveiro usado pelos naturais com muitos regionalismos locais a que vou dar guarida seleccionada no Arpose, neste e nalguns postes seguintes, a exemplo do que já fiz com outras regiões portuguesas, referindo os significados. Comecemos então pela letra A do alfabeto:

1. Acadimar - sossegar, tranquilizar.
2. À caria - à sorte, sem método algum.
3. Albaiozes - calças de ganga com alças, tipo fato-macaco, que os pescadores usavam nas traineiras.
4. À mata fisga - à falsa fé, pela calada; sem que ninguém conte.
5. Andar c'o peixe à proa - andar grávida.
6. Andaroina - viver à custa dos outros.
7. Ardida - mulher extravagante; sedutora, provocante.
8. À rola - barco solto ao sabor das ondas, sem governo.
9. Assefecada - assustada.
10. Assejar - esperar, ao largo, o melhor momento para entrar no porto.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

História e diplomacia


Tenho vindo a ler ( a princípio, imaginei que fosse fastidiosa...), com crescente curiosidade e interesse, a correspondência diplomática de J. F. Borges de Castro (1825-1887), representante português na corte de Turim, endereçada para as Necessidades, durante os anos sessenta do século XIX. Esta correspondência diplomática, publicada, termina em 4/10/1870. É uma época crucial para a mini-Itália recém criada, que ainda não tinha englobado o Veneto (pertença ainda do império austro-húngaro) nem os territórios pontifícios de Pio IX. Mas já Garibaldi e os seus guerrilheiros ameaçavam estes últimos.
A correspondência foi coligida e seleccionada por Eduardo Brazão (1907-1987), para a revista Biblos (vol. XXXVIII, 1962), com cuidadosa inteligência. E ocupa 534 páginas da publicação da FLUC.
É também por esta altura (1862) que se começa a tratar do casamento de Maria Pia, filha de Vitor Emanuel II (1814-1878), com o nosso rei D. Luís. E a Itália, apesar de muitíssimo endividada (como hoje, aliás...), ainda ajusta um dote de valor considerável para a nossa futura rainha. Procurando insistentemente o apoio da Prússia e de Bismarck, para equilibrar a defesa aguerrida que Napoleão III, da França, faz do Papa e seus territórios, Vitor Emanuel II desenvolve, cumulativamente, uma rede de contactos com a Rússia e a Inglaterra.
Os relatórios e correspondência de Borges de Castro são de uma meridiana clareza, em todos os aspectos, definindo até as individualidades italianas que deveriam ser agraciadas com comendas portuguesas, por altura do casório régio (dantes como agora, muitas...). E ainda mais umas quantas, quando, 2 anos depois, os reis portugueses vão a Itália mostrar ao avô Emanuel, o seu neto Carlos de Bragança, nosso futuro rei.
Mas o que mais me surpreendeu, foi o retrato que Borges de Castro traça de Garibaldi (1807-1882). Um autêntico antecessor de Che Guevara e já incómodo, na sua irrequietude belicosa, para os políticos conservadores italianos. Um pouco como depois Guevara terá sido, algo incómodo, para Fidel... A história repete-se, com algumas semelhanças, nos comportamentos humanos.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Filatelia LXXXV : trabalhos de casa finais


Iniciadas, há cerca de um ano, as lavagens para descolar, a classificação e escolha de uma colecção de selos adquirida em Janeiro de 2013 (poste de 5/2/13), iniciei, hoje, as tarefas finais abrangendo as estampilhas portuguesas do período clássico, insertas no álbum filatélico do século XIX. Porque era a parte que mais me interessava, foi o último trabalho de que me estou a ocupar.
Não haverá, decerto, surpresas nos 63 selos de que estou a tratar. Repintes ou duplas impressões, não as notei. Nem erros ou variantes, mas pode ser que os selos de D. Luís, fita direita (1870-84), quanto ao papel ou denteados tragam alguma novidade inesperada. Ou algum carimbo menos frequente, e que não exista na minha colecção.
Mas chamo a atenção, sobretudo dos filatelistas, para os magníficos 3 exemplares (emissão D. Pedro V, cabelos anelados, de 1856-58) com amplas margens, estado impecável e carimbos bem batidos ( o 109, de Ponte de Lima, por exemplo), que se podem ver na terceira fila da 2ª imagem que encima este poste.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

D. Luís - o ponto de vista de Ramalho


Não será bem um retrato, mas dá uma perspectiva sobre quem foi D. Luís, este esboço de Ramalho Ortigão sobre as qualidades do rei. Vinha na revista O Occidente (nº 2 do vol. I, de 15 de Janeiro de 1878). Segue um excerto:
"...O que podemos dizer de sua majestade para honra dêle e ventura nossa, não é pois que é um grande rei, mas que é um rei perfeito.
O seu temperamento é precisamente o que convém aos soberanos constitucionais: o temperamento dos condescendentes.
A sua educação não é de um filósofo. A filosofia dar-lhe-ia um sistema, um método, um ponto de vista pessoal que alguma vez seria incompatível com a maneira de ver do sr. marquês de Ávila, do sr. Brancamp ou do sr. Fontes Pereira de Melo. A educação de sua majestade é a de um gentleman. Fala seis ou sete línguas, é bom músico, desenha espirituosamente, joga as armas, monta a cavalo, guia, governa bem um iate, valsa com elegância, cultiva a caça, a pesca, a navegação, todas as prendas do sport; tem conversação, tem maneiras, tem ar . É afável, compadecido, liberal, generoso. De resto é ainda o único democrata da sua côrte, na qual as vontades de dois monarcas reforçados com um exército permanente, com vários canhões modernos, e com um corpo suplementar de archeiros, não conseguiram ainda abolir inteiramente a cerimónia fetichista do beija-mão! ..."
Resta acrescentar que Ramalho Ortigão era monárquico, e foi-o sempre, mesmo depois da implantação da República, até à morte.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pequena história (8) : Maria Pia (e Imelda Marcos)


Era conhecida a paixão da raínha Maria Pia (1847-1911) por luvas. Mesmo assim julgo que seria um gosto mais barato do que a paixão de Imelda Marcos, das Filipinas, por sapatos - quando abandonou o país, encontraram 1.060 pares de sapatos no Palácio Presidencial... fora os que terá levado para o exílio.
Mas voltemos a Maria Pia. A raínha era considerada uma mulher generosa, ou excessivamente gastadora, consoante a perspectiva. Conta-se que uma vez, numa praia do Norte, uns pescadores reconheceram Maria Pia, e pediram-lhe esmola. A raínha mandou dar-lhes uma quantia avultada, e como alguém comentasse a desmesura da oferta, logo Maria Pia retorquiu, com sobranceria:
"- O verbo dar tem de ser conjugado, pelos reis, de forma diferente das outras pessoas!" Acrescentando pouco depois: "- Quem quer raínhas, paga-as!"

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Filatelia XVI : Precursores


Chamam-se "Precursores" aos selos clássicos portugueses do Continente que tiveram curso nas Ilhas Adjacentes (Açores e Madeira), antes das ilhas terem selos próprios. O que só aconteceu a 1 de Janeiro de 1868, com a emissão de D. Luís, fita direita, não denteada, e a aposição, sobre selos do Continente, das sobrecargas: Açores ou Madeira. De 1853 a 1867, os precursores podem identificar-se, do ponto de vista da sua origem, apenas através dos carimbos numéricos que foram batidos sobre os selos. Respectivamente, assim:
48 - Angra do Heroísmo (Açores);
49 - Horta (Açores);
50 - Ponta Delgada (Açores);
51 - Funchal (Ilha da Madeira).
Em imagem, alguns percursores das emissões de D. Maria II, D. Pedro V e D. Luís.

sábado, 13 de novembro de 2010

Curiosidades 22 : o Cego do Maio



Por razões várias a, hoje, cidade da Póvoa de Varzim (e não, "do" Varzim) é, na minha memória, uma das terras portuguesas mais emblemáticas. Duas estátuas perpetuam dois dos seus naturais mais ilustres: a de Eça de Queiroz, na Praça do Almada, e a do Cego do Maio, no Largo do Passeio Alegre, frente ao mar.
Este último Poveiro, de nome próprio, José Rodrigues Maio (8/10/1817 - 13/11/1884) é um herói regional, pouco conhecido para lá da Póvoa, de Vila do Conde e de Esposende. Ficou conhecido pelo nome de Cego do Maio, não porque fosse cego, mas pelo destemor com que se lançava (às cegas), com a sua catraia (pequeno barco), às águas do Mar da Póvoa, para salvar camaradas da sua profissão, em situações de perigo, ou em risco de perderem a vida em naufrágios. Resgatou, assim, dezenas de vidas de pescadores.
E de tal modo era respeitado que, a 14 de Maio de 1881, quando foi para a Póvoa de Varzim o primeiro salva-vidas, esse barco teve, como primeiro arrais ou mestre, o Cego do Maio. Pelos seus feitos solidários e notáveis, foi agraciado pelo rei D. Luís, com a Ordem de Santiago da Torre e Espada. Conta-se que, para retribuição, o Cego do Maio levou umas conchinhas (beijinhos), muito estimadas e procuradas por crianças nas areias da praia, e até pelos veraneantes. E, quando o Rei lhe impôs a condecoração, o Poveiro estendeu-lhe as pequenas conchas e disse para D. Luís: "Tome lá ó Ti' Rei, uns beijinhos para as suas criancinhas brincarem !"


domingo, 31 de outubro de 2010

O dia dos 3 reis


Não, não são os Reis Magos. Mas, curiosamente, a História de Portugal conta com 3 reis nascidos a 31 de Outubro. O primeiro foi D. Fernando, nascido em 31 de Outubro de 1345. Na mesma data, mas no ano de 1391, nasceu D. Duarte, o Eloquente. E, finalmente, a 31 de Outubro de 1838, nasceu o rei D. Luís que veio a falecer em 1889. Foi o mais longevo, porque D. Fernando morreu com 38 anos, e D. Duarte com 47.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Filatelia IV : ( Inteiros ) Postais


Segundo o Catálogo de Inteiros Postais Portugueses (1985), de José da Cunha Lamas e A. H. de Oliveira Marques, o primeiro Bilhete Postal português iniciou a sua circulação em 1 de Janeiro de 1878, no reinado de D. Luís (1838-1889). Tinha a taxa de correio ou franquia de 15 réis (também foi emitido, em simultâneo, o postal de 25 réis), e a impressão em relevo de D. Luís, de perfil, igual à dos selos da época (fita direita). De acordo, ainda, com o catálogo acima referido, o postal de 15 réis teve uma tiragem de 737.152 exemplares.
O exemplar, ao alto, na imagem, pertence a esta tiragem e tem carimbo de Março de 1878, cerca de dois meses e poucos dias depois do início da circulação. A princípio, os postais eram apenas de produção oficial dos Correios de Portugal, mas, posteriormente, algumas empresas começaram a timbrar, com autorização, os seus próprios postais. O 3º postal da imagem é um bom exemplo. Já é circulado no reinado de D. Carlos como se pode ver pelo selo colado (emissão de 1892-1893, e primeira deste reinado).