quarta-feira, 13 de junho de 2012

D. Luís - o ponto de vista de Ramalho


Não será bem um retrato, mas dá uma perspectiva sobre quem foi D. Luís, este esboço de Ramalho Ortigão sobre as qualidades do rei. Vinha na revista O Occidente (nº 2 do vol. I, de 15 de Janeiro de 1878). Segue um excerto:
"...O que podemos dizer de sua majestade para honra dêle e ventura nossa, não é pois que é um grande rei, mas que é um rei perfeito.
O seu temperamento é precisamente o que convém aos soberanos constitucionais: o temperamento dos condescendentes.
A sua educação não é de um filósofo. A filosofia dar-lhe-ia um sistema, um método, um ponto de vista pessoal que alguma vez seria incompatível com a maneira de ver do sr. marquês de Ávila, do sr. Brancamp ou do sr. Fontes Pereira de Melo. A educação de sua majestade é a de um gentleman. Fala seis ou sete línguas, é bom músico, desenha espirituosamente, joga as armas, monta a cavalo, guia, governa bem um iate, valsa com elegância, cultiva a caça, a pesca, a navegação, todas as prendas do sport; tem conversação, tem maneiras, tem ar . É afável, compadecido, liberal, generoso. De resto é ainda o único democrata da sua côrte, na qual as vontades de dois monarcas reforçados com um exército permanente, com vários canhões modernos, e com um corpo suplementar de archeiros, não conseguiram ainda abolir inteiramente a cerimónia fetichista do beija-mão! ..."
Resta acrescentar que Ramalho Ortigão era monárquico, e foi-o sempre, mesmo depois da implantação da República, até à morte.

2 comentários:

  1. Independentemente da política, tenho duas observações: sou uma fã de Ramalho e dos seus textos; não tenho grande opinião sobre D. Luís, mas na verdade, se bem me lembro, o seu reinado foi bem melhor que o de D. Carlos - mas pode ter sido apenas sorte...

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  2. Ramalho é muito bom, e vivo, a escrever. Muitas vezes, o seu estilo e ironia, lembram o Eça. Mas não escreveu romances e, de certa forma, delapidou o seu talento por obras fragmentárias - foi pena.
    Quanto a D. Luís, a benefício de inventário, também traduziu Shakespeare..:-)

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