Não será bem um retrato, mas dá uma perspectiva sobre quem foi D. Luís, este esboço de Ramalho Ortigão sobre as qualidades do rei. Vinha na revista O Occidente (nº 2 do vol. I, de 15 de Janeiro de 1878). Segue um excerto:
"...O que podemos dizer de sua majestade para honra dêle e ventura nossa, não é pois que é um grande rei, mas que é um rei perfeito.
O seu temperamento é precisamente o que convém aos soberanos constitucionais: o temperamento dos condescendentes.
A sua educação não é de um filósofo. A filosofia dar-lhe-ia um sistema, um método, um ponto de vista pessoal que alguma vez seria incompatível com a maneira de ver do sr. marquês de Ávila, do sr. Brancamp ou do sr. Fontes Pereira de Melo. A educação de sua majestade é a de um gentleman. Fala seis ou sete línguas, é bom músico, desenha espirituosamente, joga as armas, monta a cavalo, guia, governa bem um iate, valsa com elegância, cultiva a caça, a pesca, a navegação, todas as prendas do sport; tem conversação, tem maneiras, tem ar . É afável, compadecido, liberal, generoso. De resto é ainda o único democrata da sua côrte, na qual as vontades de dois monarcas reforçados com um exército permanente, com vários canhões modernos, e com um corpo suplementar de archeiros, não conseguiram ainda abolir inteiramente a cerimónia fetichista do beija-mão! ..."
Resta acrescentar que Ramalho Ortigão era monárquico, e foi-o sempre, mesmo depois da implantação da República, até à morte.
Independentemente da política, tenho duas observações: sou uma fã de Ramalho e dos seus textos; não tenho grande opinião sobre D. Luís, mas na verdade, se bem me lembro, o seu reinado foi bem melhor que o de D. Carlos - mas pode ter sido apenas sorte...
ResponderEliminarRamalho é muito bom, e vivo, a escrever. Muitas vezes, o seu estilo e ironia, lembram o Eça. Mas não escreveu romances e, de certa forma, delapidou o seu talento por obras fragmentárias - foi pena.
ResponderEliminarQuanto a D. Luís, a benefício de inventário, também traduziu Shakespeare..:-)