Em Agosto, é recorrente: lembro-me sempre de férias passadas. Normalmente, à beira-mar. E da procissão de Nossa Senhora da Assunção (15 de Agosto), a que se seguia um foguetório intensíssimo, que durava, no mínimo, 20 minutos. Os foguetes eram lançados de vários barcos engalanados, do mar da Póvoa de Varzim, nesta data festiva. Paga de milagres de salvamentos, em perigos de mar. Mas o que nunca esqueci e, na altura, adorava ver e ouvir, era um mesário da confraria que, ladeando o andor da Virgem, e com a sua bolsa de veludo para as esmolas, lançava um pregão velocíssimo e tonitroante: "Quem se lembra, com a sua esmola misericordiosa, para Nossa Senhora da Assunção?!"
E, hoje, dei-me a pensar em: quem se lembrará de António Maria Lisboa? Que nasceu, precisamente, a 1 de Agosto de 1928, e foi uma espécie de D. Sebastião, para os surrealistas portugueses. Obra curta, como lhe foi a vida (morreu a 11 de Novembro de 1953), poemas e prosa um pouco crípticos, mas interessantes. Ergueram-lhe altares, hoje desfeitos - creio. Por isso, aqui o decidi lembrar, agora, através duma obrinha pouco frequente (ver imagem), que foi editada, postumamente, por Mário Cesariny de Vasconcelos, em 1958. O meu exemplar terá sido oferecido, pelo editor, a Artur Portela Filho. Daí a dedicatória manuscrita.