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domingo, 4 de abril de 2021

Quatro sublinhados de leitura, para reflexão alheia

Devo-o ao meu pai, porque, como escrevi em Depois de Babel, ele soube adivinhar que uma língua que se aprende é uma nova liberdade, uma língua nova, um cosmos e um mundo por si só, enfim, uma probabilidade de sobrevivência inestimável. (pg. 26)

Se não soubermos quem era Hipnos, se não tivermos a decência de pegar num bom dicionário de mitologia para o descobrirmos, nada nos será acessível de René Char, do seu papel, da sua luta pela vida e pela liberdade. (pg. 119)

A arte abstracta, a de Paul Klee, de Kandinsky, ilustra a queda da matéria no silêncio com o qual tem laços indissolúveis. Em terceiro lugar, diria que a temática do ruído, na cultura e na educação modernas me apaixona. A intrusão do ruído, a impossibilidade de encontrarmos espaços consagrados ao silêncio, tanto na nossa existência privada, como na vida pública ou na educação reservada às crianças, parece-me ser a poluição mais grave com que a cultura moderna se confronta. (pg. 138/9)

O universalismo não é portador de qualquer valor de tolerância ou de acolhimento. Traz consigo o seu próprio dogma. O supermercado não quer produtos locais, enlata uma cultura capitalista de exportação que o mundo inteiro terá de sofrer. (pg. 177)


George Steiner (1929-2020), in Quatro Entrevistas... (VS Editor, 2020).


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Sociedade e ilusão, segundo Valéry


A sociedade não vive senão de ilusões. Toda a sociedade é uma espécie de sonho colectivo.
Estas ilusões tornam-se ilusões perigosas quando começam a deixar de iludir.
O despertar deste género de sonho é um pesadelo.

Paul Valéry (1871-1945), in Mauvaises Pensées et Autres (pg. 814).

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Uma reflexão sobre a memória, de Paul Valéry (1871-1945)


Porque será que o ser humano que envelhece vai perdendo muitas vezes a memória mais recente e reencontra as suas memórias mais antigas?
Como um quadro antigo que vai deixando aparecer as suas estruturas iniciais de base.
Como se o que é mais recente fosse pintado de forma mais ligeira e que o presente do homem envelhecido fosse cada vez mais superficial - desinteressado, enquanto que as lembranças do passado ou a sua sensibilidade readquirissem a força e intensidade primitivas.

Paul Valéry, in Mauvaises Pensées et autres ( B. de la Pléiade, vol. II, pgs. 842/3).

domingo, 15 de novembro de 2015

Para reflexão


É um exemplo simples, objectivo e indesmentível. Que ajuda a desmontar ou desmistificar a sacralidade dogmática instrumental da Economia, na sociedade dos nossos dias. E é referido pelo economista e sociólogo francês Bernard Friot (1946), desta forma linear: uma baby-sitter vem tomar conta do bebé de uma família, recebendo, em troca, um pagamento por esse serviço - uma transação, para todos os efeitos, que é acrescentada ao PIB; se for o avô ou a avó a encarregarem-se dessa tarefa, gratuitamente, não há valor acrescentado, nem registado pela contabilidade nacional. Ora, o valor social do acto é exactamente o mesmo.