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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Os acantonamentos nacionalistas, ou o estreitamento dos horizontes (culturais)


Na Lisboa antiga dos anos 60, eu era um felizardo. Para além do acesso a uma pequena, mas bem escolhida, biblioteca da embaixada japonesa, por onde li (em ingles) várias centenas de haiku e outras poesias nipónicas, tinha na Av. Duque de Loulé, à minha vontade, várias centenas de clássicos norte-americanos, para ler, gratuitamente, no Centro Cultural estadunidense. Depois, havia uma Livraria Britanica, perto do Cais do Sodré, duas livrarias espanholas bem abastecidas, uma delas muito próxima da Almirante Reis. E ainda havia a Buchholz. Sem esquecer as grandes livrarias portuguesas que eram pródigas em livros franceses, ingleses, espanhóis e teutónicos. Na verdade, Lisboa, nessa altura, era muito mais cosmopolita (e lida), culturalmente.
Hoje, é a miséria que sabemos, apesar da FNAC, que foi encurtando o seu espólio de escolha, pouco a muito, mesmo em obras gaulesas. Fechou entretando a Portugal, a Clássica, e a Sá da Costa hoje transformada em antiquário empalhado, com livros a custos à moda do Porto, que pouco acrescenta ao panorama livreiro. Restam 2 ou 3 alfarrabistas importantes. Mas noutros países, o mesmo vai acontecendo. Aqui, por Koblenz, é impossível encontrar "L'Obs." ou o TLS, para comprar. E, quase esgotada a minha reserva de livros para ler, pedi conselho (a quem sabe) sobre uma livraria da cidade, onde eu pudesse escolher obras, em língua inglesa ou francesa. Depois de muita pausa, foi-me indicada a Reuffel, no centro de Koblenz. E lá fui.



O panorama foi desconsolador. De livros ingleses, tirando os dicionários, havia meia prateleira, e grande parte dos títulos (talvez 30)  era para consumo escolar do Liceu (Shakespeare, Huxley...). Trouxe um James Baldwin, Sonny's Blues. Os livros franceses sempre ocupavam mais comprimento, talvez duas prateleiras, e aí uns 100 títulos, quando muito. Em desespero de causa, de lá trouxe La Cache, de Christophe Boltanski. Autor para mim desconhecido, tirando o facto de ser colaborador do Libération e o livro ter recebido o Prémio Femina de 2015. Dois tiros no escuro, a bem dizer...


Parece poder concluir-se que, apesar do linguajar norte-americano globalizante e cheio de erros e abreviaturas internéticas que por aí se fala e escreve, os europeus väo lendo cada vez mais e apenas nas suas próprias línguas nacionais. Ao menos, em papel.
Patrioticamente?