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domingo, 13 de março de 2016

Divagações 109


Não há nada como arrumar os sonhos, para começar o dia por inteiro. Ora, às vezes, é bem difícil...
Imagine-se um capítulo em que entram, de forma quase caótica, um Mestre parado e cristalizado nos anos, que nos recomenda, veemente, um crítico já falecido; uma rua ensolarada da Amadora envolvida em sedução e tatuagens (ou seriam graffiti?), Vasco da Graça Moura armado em duelista sobre o Acordo O., um prémio pouco esclarecido sobre um poema que nem tinha começado... sobre um broto redondo de um limoeiro que se vai formando em fruto oval, pela graça de deus. Mais uma rola invisível que, paralela a mim e saltitando de árvore em árvore, arrulha incessantemente. A isto se junte o desenrolar de um pedestre que tenta chegar a Campolide.
Fico-me pelo limão, arrumo as outras bugigangas para debaixo da cama, e vou à vida. Porque hoje é domingo...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Divagações 6


Os cegos, ontem, na grande cidade, andavam inquietos, desastrados, como que perdidos e desencontrados. Uma cega ainda jovem que, durante a viagem, na minha frente ouvia as mensagens do seu telemóvel e balbuciava, ao mesmo tempo, palavras ininteligíveis, quando se levantou, em Campolide, enganou-se na saída, esbarrou na parede, tropeçou nas escadas e praguejou - nunca tal eu vira e ouvira.
Outro cego, no metro, talvez quarentão recente, de passo trôpego, que, pressurosamente, um negro jovem tentou ajudar e guiar, foi corrido aos palavrões, entremeados pela frase, repetida: "Largue-me, eu sei muito bem o que estou a fazer, seu burro!" Os transeuntes, condoídos do preto caridoso, diziam: "Parece impossível!? O rapaz só queria ajudar!..." No meio de todos estes desencontros, lembrei-me de E. M. Cioran. E, em casa, encontrei as palavras que procurava do romeno-francês: "Todos estes olhos duros, maus. Em caso de revolta, não ousamos imaginar a sua expressão. A palavra «próximo» não tem sentido nenhum numa grande cidade. É um vocábulo que era legítimo nas civilizações rurais, onde as pessoas se conheciam de perto, e podiam amar ou detestar-se em paz."