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terça-feira, 21 de julho de 2020

Pinacoteca Pessoal 167


A obra de Domenico Ghirlandaio (1440?-1494) fala por si. Mas também dele falou Giorgio Vasari, que se ocupou de biografar os nomes grandes dos pintores da Renascença italiana. Dizem que Ghirlandaio terá sido um dos professores de Miguel Ângelo, o que só abona e reforça a qualidade do seu mestrado.


Com obra realizada em Florença e Roma, principalmente, são de destacar os frescos da igreja de Santa Maria Novella, de índole religiosa, ou a decoração da capela Tornabuoni. Retratos das figuras gradas florentinas pontuam também os seus quadros. Não esquecendo, porém, o magnífico retrato de Dante. Que, para cotejo, convirá emparceirar com o homónimo executado por Botticelli.


domingo, 24 de março de 2019

Divagações 144


O trabalho em mármore Taddei Tondo (= Composição Circular), de Miguel Ângelo Buonarroti (1475-1564), executado entre 1504 e 1505, é a única peça escultórica do artista italiano existente na Inglaterra. Pertence ao acervo da Royal Academy (Londres).
Este museu londrino, segundo o TLS (nº 6049), tem em exposição, até 31 de Março de 2019, uma mostra intitulada Bill Viola / Michelangelo - Life, Death, Rebirth. Viola (1951) é um vídeo-artista norte-americano estimável, com notoriedade e nome feito.



Quando se começou a falar e tratar, universitariamente, a cadeira de Literatura Comparada, era talvez muito cedo para miscigenar artes plásticas e obras de artistas diversos. Mas, hoje em dia, isso tornou-se comum e frequente.
Um pouco na sequência da 3ª proposição do poste anterior (Miscelânea...), não sei se isto não será excessivamente contraproducente e forçado. A facilidade, por exemplo, com que se usa, hoje, o nome de Arte Urbana, para classificar alguns mamarrachos, nas paredes das cidades, preocupa-me...
Parece-me ser tudo isto mais uma das delicadezas da democracia: fazer descer a arte até ao povo. Em vez de o educar e fazer subir os degraus estéticos da arte, criando-lhe referências, sentido crítico e ferramentas de rigor.
Positivamente, não creio, por muito bom artista que Bill Viola seja, que se possa (já) pô-lo em paralelo com a grandeza da obra de Miguel Ângelo. Há coisas que não se podem ou não se devem, pelo menos e em nome do bom senso, comparar.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Não só, mas também


O lado mais popular, e efémero, da visita breve do papa Francisco a Fátima, fez esquecer e obscureceu alguns aspectos secundários que foram propiciados por essa visita, e cuja importância ainda se pode avaliar e fruir.
Falou-se pouco, ou quase nada, das obras de arte que acompanharam a visita pontifícia, vindas dos Museus do Vaticano, e que enobrecem, temporária mas grandemente, duas exposições de Lisboa, que ainda podem ser vistas. Uma, de que aqui já falámos, na galeria de exposições da Igreja de S. Roque, a propósito do pentacentenário do Compromisso da Misericórdia (1516); outra, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), sob o título ou temática: Madonna.
Visitámos, hoje, esta última mostra. E se a surpresa de encontrar um pequeno Chagall inesperado, vindo dos Museus do Vaticano, me deslumbrou, não fiquei indiferente à cópia da Pietá de Miguel Ângelo, ou às pequenas tábuas de Rafael Sanzio. E pude assim rever, também, o único Da Vinci, nas terras portuguesas, esse, vindo do Porto, da sua Faculdade de Belas-Artes, que muito raramente é exposto, por razões óbvias. E que, se calhar, muito pouca gente conhece...


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Miguel Ângelo, polémico


Nem sempre nos lembramos que, em "Da Pintura Antiga", Francisco de Holanda (1517-1585) transcreveu nos "Diálogos de Roma" conversas que terá tido com Miguel Ângelo (1475-1564). Embora no tom empolado do diálogo renascentista literário, achei curioso recordar o que Miguel Ãngelo diz sobre a pintura flamenga, em contraponto à italiana.

"- A pintura de Flandres, respondeu devagar o pintor, satisfará, senhora, geralmente, a qualquer devoto, mais que nenhuma de Itália, que nunca lhe fará chorar uma só lágrima, e a de Flandres muitas; isto não pelo vigor e bondade daquela pintura, mas pela bondade daquele tal devoto. A mulheres parecerá bem, principalmente às muito velhas, ou às muito moças, e assim mesmo a frades e a freiras, e a alguns fidalgos desmúsicos da verdadeira harmonia. Pintam em Flandres propriamente para enganar a vista exterior, ou cousas que vos alegrem ou de que não possais dizer mal, assim como santos e profetas. O seu pintar é trapos, maçonarias, verduras de campos, sombras de árvores, e rios e pontes a que chamam paisagens, e muitas figuras para cá e para acolá. E tudo isto, ainda que pareça bem a alguns olhos, na verdade é feito sem razão nem arte, sem simetria nem proporção, sem advertência do escolher nem despejo, e finalmente sem nenhuma substância nem nervo. E contudo, noutra parte se pinta pior que em Flandres. Nem digo tanto mal da flamenga pintura porque seja toda má, mas porque quer fazer tanta cousa bem (cada uma das quais, só, bastava por mui grande) que não faz nenhuma bem."

(Clássicos Sá da Costa, "Diálogos de Roma" de Francisco de Holanda, pgs. 18/19)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Em sequência : Sá de Miranda



A fazer fé nos dados mais credíveis, Francisco de Sá de Miranda terá nascido, em Coimbra, nos finais de Agosto de 1481, o que significa que cresceu e se fez homem durante o reinado de D. Manuel I. Pese, embora, o lado polémico da minha afirmação, faço desde já uma declaração de interesses: considero-o um dos maiores poetas portugueses de sempre, ao lado de Camões e de Pessoa. É, porém, uma "frauta ruda" no seu cantar enviezado, nas suas elipses, nos seus versos nem sempre claros, delicados ou fluentes, mas que apontam para longe e para o fundo de nós mesmos.
Esteve em Itália, provavelmente entre 1521 e 1526 - era ainda familiar afastado dos Collonnas, e de Vittoria Collonna (1490-1547), mulher influente, amiga de Miguel Ângelo -, onde tomou contacto com a "modernidade" da época: o Renascimento. Dessa viagem ficou, pelo menos, a "Cantiga feita nos grandes campos de Roma". Quando regressou a Portugal, estadiou em Buarcos (onde também dizem que terá nascido), pousou, reflectiu e voltou, depois, à vida activa. Era um homem de Leis (formado em Lisboa), e a Justiça sempre foi uma das suas questões próprias. A sua poesia faz-se eco disso. E era um varão desassombrado, o que tinha a dizer, dizia: a amigos, a príncipes ou reis. Nunca se coibiu de dizer "não" o que é, sempre, um indício de maturidade mental, sobretudo num país de brandos costumes que inventou o "nim".
A sua ida para o Minho, próximo de Amares (Quinta da Tapada), está envolta em mistério, pelas causas que a originaram, até porque Sá de Miranda era um homem do Paço. Arrisco, especulativamente, uma hipótese insuficientemente documentada, ou por provar: o clima criado pela Inquisição. Há versos sibilinos ("...Não vejo o rosto a ninguém;/ cuidais que são ou não são...") vários pelas suas "Poesias" que denunciam uma perseguição ("...mente cad'hora espia;..."). O reinado de D. João III, com a criação da Inquisição, foi muito diferente do período manuelino anterior. Percebe-se que, com D. João III, houve menos liberdade, havia receios, tudo foi mais domesticamente cristão, mais pequenino e mais conforme...
Sá de Miranda casou tarde. Esse facto deve, também, ter-lhe dado uma visão mais ampla da vida. A morte de um dos dois filhos que teve, em combate, próximo de Ceuta, e o falecimento de sua mulher afectaram-no profundamente. Fragilizado ("...porque se conta dele que, estando sem gente de cumprimento [ e ainda com ela ], se suspendia algumas vezes, e de ordinário derramava lágrimas sem o sentir;..."), vem a morrer em 1558, em data desconhecida, mas posterior a 16 de Maio. De Sá de Miranda, na lição de Pina Martins, escolhi por gosto o seguinte soneto:

Alma que fica por fazer desd'hoje
Na vida mais? se a vã minha esperança
Que sempre sigo, que me sempre foge?
Já quanto a vista alcança a não alcança.

Fortuna que fará? Roube, despoje,
Prometa doutra parte, em abastança:
Que tem com que m'alegre, ou que me anoje?
Tanto tempo há que dei mão à balança!

Chorei dias e noites, chorei anos,
E fui ouvido ao longe, pelo escuro
Gritando, acrescentar muito em meus danos.

Agora que farei? Por Amor juro
De tornar a cantar fora d'engano
E por muito do mal, posto em seguro.
P.S. : para Luís Barata, com estima.