Não levo muito a sério as descrições de refeições ou receitas surgidas em livros de cariz policial. Mas há que referir o facto de que raramente um detective tem um cozinheiro particular em casa, como é o caso de Nero Wolfe, figura central dos policiais de Rex Stout (1886-1975). Invariavelmente, o detective de ascendência montenegrina, acompanha as refeições, ainda que sofisticadas de Fritz, com cerveja. O que, no meu entender, revela um certo mau gosto de eventual "gastrónomo", provável contágio de quem vive na América, já há muito. Pior seria, no entanto, que acompanhasse com coca-cola, esta refeição que vem descrita na página 151 (capítulo 14), de Crimes em Série (Vampiro, nº 564) que ando, intermitente, a ler há meses. Aí vai:
"Passámos o resto do dia em conferência, exceptuando o tempo para as refeições. As refeições foram deprimentes. Os borrachos marinados em natas leves, envoltos em farinha temperada com sal, pimenta, noz-moscada, tomilho e bagas de zimbro esmagadas, salteados em azeite e servidos sobre uma tosta, regados com geleia de groselha e molho de natas ao Madeira, são um dos petiscos preferidos de Wolfe, geralmente consome três, mas já o vi comer quatro. Nesse dia, eu (Archie Goodwin) quis ir comer para a cozinha, mas não. Tive que me sentar e comer os meus dois borrachos, enquanto ele debicava sombriamente as suas ervilhas, com salada e queijo. A refeição ligeira da noite de domingo foi igualmente má. Ele come geralmente qualquer coisa barrada com queijo e anchovas ou pâté de foie gras ou arenques em molho de natas azedas, mas, aparentemente, o voto incluía o peixe. Comeu bolachas com queijo e bebeu quatro chávenas de café. Mais tarde, no escritório, comeu uma taça de pecans e depois foi à cozinha buscar uma escova e uma pá para limpar as cascas que estavam sobre a secretária e o tapete."
Uma bela salgalhada, sem dúvida! Foi por isso que eu referi, no início do poste, que: não levava muito a sério as descrições de refeições nos romances policiais.