sexta-feira, 26 de abril de 2024

Uma fotografia, de vez em quando... (182)

 

Alemã, de origem judia, Ilse Bing (1899-1998) fez a sua formação em Frankfurt, mas em 1930 veio a fixar-se em Paris, onde se dedicou, como freelancer, ao fotojornalismo e à fotografia de moda. Para evitar a perseguição do nazismo, viria a partir para os E. U. A., em 1941.




A partir de 1957 abandonou a fotografia a preto e branco, que constitui, quanto a mim, o melhor da sua obra, para se dedicar inteiramente à fotografia a cores.



quinta-feira, 25 de abril de 2024

Apontamento 166: 25 de Abril – Vivências

 

[cfr. https://restosdecoleccao.blogspot.com/search?q=Transportadora+Belo]

Passados 50 anos, todos sabemos que a memória já não é o que era. Sucede, no entanto, que permanecem registos inapagáveis, embora de precisão temporal e local algo diluídos.

Mesmo assim, resolvi registar, para memória futura, o que ainda se acumula na memória, visual e afectiva, de aprendizagem única e determinante.

Com efeito, assim foi o meu 25 de Abril.

Saí, pouco depois das 7 da manhã, da casa de residência em Cacilhas, transformada maioritariamente em república estudantil, para ir para o meu trabalho de administrativa numa fábrica situada no Casal do Marco. Utilizava as camionetas Belo, em imagem, para acordar no caminho, sonolenta, das noitadas de conversas e convívios.

Julgo não estranhei, à partida, a ausência de qualquer passageiro habitual, porque também não tinha grande familiaridade com os utilizadores da camioneta. Achei estranho o facto de o motorista estar muito atento ao que estava a ser transmitido na sua telefonia, matéria que, no meu estado meio ensonado, me passou ao lado. Ficou-me a lembrança de ter feito a viagem com poucos passageiros, contrariamente ao habitual.

Depois de sair da camioneta, seguindo a pé para a fábrica, o caminho também me pareceu pouco frequentado.

Junto da entrada da fábrica comunicarem-me que não podia entrar, devia recolher a casa porque estava em curso “não sei o quê”.

Preocupada com os meus companheiros que deixara a dormitar na “residência estudantil”, tentei voltar o mais depressa possível a casa. Felizmente, as camionetas Belo ainda funcionavam regularmente.

Ao voltar a entrar em casa, já havia quem se tinha apercebido, embora vagamente, do que se estava a passar em Lisboa.

Como seria para passar de barco, de Cacilhas para Lisboa ? Haveria barcos ?

A partir deste momento, da nossa deslocação da margem Sul para o centro dos acontecimentos em Lisboa, a cronologia já não acerta. Baralham-se as imagens, embora haja, por enquanto, registo de memória dos locais percorridos.

Lembro-me perfeitamente, da mole humana e do ambiente no Largo do Carmo. Antes ou depois, guardei imagens de uns soldados da GNR, com arma na mão e semblante assustadiço, nas escadas de acesso para os comboios da estação do Rossio.

Ainda em pleno dia, como diz a seguinte notícia:

“Uma primeira manifestação tinha avançado pela rua António Maria Cardoso, provocando os primeiros disparos e os primeiros feridos, por volta das 13h30.” – Esquerda NET

recordo-me de fixar, para o resto da minha vida, uma Travessa dos Teatros, ao Chiado, pelo facto de alguém me ter empurrado, caindo nestas escadas, para não ser atingida.


Actualmente, julgo saber o lugar exacto, na imagem acima, de onde vieram os primeiros disparos.

Não me lembro de todo o que se comeu, onde e quando nestes primeiros dias fora de casa.

Vínhamos para casa apenas para dormir e tratar das necessidades básicas e de higiene.

Da altura, e ainda como forasteira voluntária, fica o meu testemunho de uma experiência ímpar, de rara dádiva humana, social, cultural, política e afectiva.

No final de contas, seria imperdoável não registar as mudanças de vivência e as alterações no relacionamento pessoal que se operaram após o 25 de Abril. A aparente abertura com laivos de opções progressistas nas relações pessoais cedo deu lugar a outros encontros, passando de ideais revolucionários a trilhos tradicionais de “casa e pucarinho”.

Sinais do tempo.

Consequentemente, se o pós-25 de Abril provocou, primeiro, a perda do poiso na residência habitual e, de seguida, o despedimento de um emprego seguro, surgiram as dificuldades próprias da altura. Abalos e consequências, certamente, na convicção, julgada inabalável, de uma opção democrática, nem sempre bem fundamentada, de quem se tentava situar na margem esquerda do mundo democrático.

Em todo o caso, foram essas circunstâncias que contribuíram para uma opção de vida que desejava, baseada numa formação sólida, intelectual, com enriquecimento pessoal, político e afectivo que, passados estes 50 anos, me merece o maior agradecimento ao país que me acolheu e, designadamente, ao apoio dos que me são mais próximos.

Fica o eterno abraço a todos os amigos que encontrei e que me ajudaram, assim como os familiares que me têm enriquecido a vida todos os dias.

 Post de HMJ

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Marcadores 31

 


Nem de propósito e na véspera dos 50 anos sobre a passagem do grande dia da Democracia portuguesa, chegou-nos de uma boa Amiga um conjunto temático de marcadores com motivos alusivos ao 25 de Abril.
Com alguma dificuldade, fiz uma escolha de apenas alguns que mais me diziam para pôr em imagem.
Um bem haja à gentil Amiga, que se lembrou de nós e da efeméride a celebrar amanhã.





Citações CDLXXXVIII

 


A História é a filosofia ensinada através de exemplos.

Dionísio de Halicarnasso, in Antiguidades de Roma.


terça-feira, 23 de abril de 2024

Interlúdio 99


Multifacetada, esta mulher etíope que, depois de professar, adoptou o longo nome de Emahoy Tsegué-Maryam Gèbru (1923-2023), chegou a pertencer à orquestra privada do imperador Hailé Selassié. Tendo tido uma educação e formação europeias, falava diversas línguas e tocava vários instrumentos musicais, com maior incidência: piano e violino. Além de cantar e compor. 
Fixou-se, depois, como freira, num mosteiro de Jerusalém, onde veio a falecer com 99 anos de idade.

com agradecimentos a ms, pela lembrança.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Incomodidades


A iconografia tem sido importante aqui no Arpose ao longo destes 15 anos de exercício, para mim, e nos mais de uma dezena de milhar de postes registados. Na sua elaboração também se têm vencido muitas contrariedades, algumas pela persistência habilidosa de HJM, outras por simples acaso ou sorte minha. É provável que alguns dos problemas surgidos se devam à minha inoperância ou falta de conhecimentos tecnológicos, mas outros dos obstáculos estou certo que são provocados pelo Google e outras eminências monopolistas marcanas que, muitas das vezes, em vez de facilitar as operações, ao fazer alterações fúteis ou inúteis, só dificultam as tarefas do blogue aos utentes...
Desta vez, recente, a inserção de imagens, nos postes que faço, deixou de funcionar, informando sistemáticamente : "Falha no upload // Servidor rejeitado". Só consigo acrescentar iconografia com a ajuda trabalhosa de HMJ. E nem sempre. Por isso é provável que, para de futuro, o Arpose só muito esporadicamente venha a ter iconografia a acompanhar os textos. Aqui fica o aviso.

domingo, 21 de abril de 2024

Ponto de situação



5 - Assim vão as amaryllis. - 5 

sábado, 20 de abril de 2024

Rubin Goldmark (1872-1936)

Desabafo (87)


 
Há por aí uma poetisa gorda sexagenária, e com falta de vista, que nunca deveria ter deixado de colaborar no Almanaque de Santa Zita. Perdeu-se assim uma bonita vocação de servir...

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Versão de um poema de Roberto Juarroz (1925-1995)


 
112

Talvez nos pudéssemos fixar
para sempre sobre um pensamento.

E até pode ser que a eternidade consista
em nos concentrarmos, sem mais nada à volta,
nesse pensamento mais denso
como se lá ficasse como uma planta desperta
colonizando para sempre o seu minúsculo espaço.

Morrer não seria senão nada
mais que um último esforço de atenção,
o abandono total de todos os outros pensamentos.


(Poesía Vertical, IV, 26)

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Apontamento 165: Infelizmente, assim vai o mundo

 

O poste vai sem imagem, porque me recuso a fazer publicidade a uma publicação que não conheço, mas cuja matéria me parece extremamente duvidosa para os fins em vista.

Esclareçamos, então, a questão.

Pelas minhas leituras do jornal de referência, DIE ZEIT, fiquei a saber que a matéria literária dos exames nacionais, este ano na Alemanha, se baseavam numa autora, chamada Julia Zeh, cuja referência cultural e literária nunca me tinha passada pelos olhos.

Obviamente, considerei, à partida, que a falha seria minha, motivo pelo qual tentei recolher informações sobre a autora. Da minha livraria de referência, de Colónia, pouco recolhi, nem o tal romance "Corpus Delicti" aparece nas listas que costumo consultar.

O que tentei saber sobre a matéria do romance é que se trata de uma visão “distópica” sobre o futuro, ou seja, o avesso a uma perspectiva utópica e bela sobre o futuro.

Ao fim do dia, após a leitura da notícia e relembrar-me das minhas provas de exame nacional [Abitur], resta-me uma revolta enorme perante este disparate. Então, não haverá autor, na imensa galeria de escritores alemães, que, com uma qualidade superior a estes escritos de circunstâncias, fizesse pensar os jovens ? Convenhamos, não tenho nada contra a autora e o seu livro. Não me parece é escolha acertada para o fim em vista !

Até sinto vergonha pela falta de qualidade dos órgãos respectivos: Governo federal e estatais.

No entanto, recuso-me a aceitar que é este mundo que queremos, embora se tente impor à viva força uma agenda do imediato e pouco alicerçada numa cultura sólida.

Post de HMJ

Adagiário (?) CCCLXV


 
Volto, com prazer e ciclicamente, a alguns dos livros do escritor minhoto Tomaz de Figueiredo (1902-1970) e nunca dou por mal empregue o tempo que lhe dedico, na leitura. Alguma coisa, quase sempre, aprendo ou reaprendo sobre a língua portuguesa. Uma das suas obras mais folheada é sem dúvida o póstumo Dicionário Falado (1970), onde num anterior prefácio (Novembro de 1968) do autor fui encontrar uma frase que quase parece um provérbio, e a que achei graça. Da página XII, aqui a deixo registada, para que se não perca:

"Tem cada qual a sua maneira de matar pulgas, quem com as unhas não pode, com os dentes acode..."

Comic Relief (160)

 

Há, no mínimo, por aqui umas mãos que não se entendem lá muito bem...

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Mercearias Finas 199

 

A predominância da cor branca na foto, se exceptuarmos o vermelho do pimento e do tomate no arroz, mais o dourado do Alvarinho Soalheiro 2022, no interior da garrafa de vinho, poderia indiciar uma refeição neutra ou sensaborona. Puro engano, que o linguado estava fresquíssimo, o arroz bem apaladado e o vinho de Monção, de 12,5º, estava muito bom, embora pudesse esperar mais uns 3 anos, sem se diminuir em qualidade. E, finalmente, a couve-flor não desmereceu.
Foi assim o nosso almoço do passado Domingo, para aqui o recordar e registar, com gosto.

terça-feira, 16 de abril de 2024

As palavras do dia (55)



A diligência e o ritmo da justiça à portuguesa, no seu melhor! 
Mais outra proeza a curto prazo?!...

Bibliofilia 212

 

Estes Elementos da Poetica (1765), colhidos nos clássicos gregos e latinos por Pedro José da Fonseca (1737-1816), constituem a primeira edição desta obra pedagógica, que o professor régio de retórica fez imprimir na Oficina de Miguel Manescal da Costa, em Lisboa. Seguiram-se pelo menos mais duas edições Rolandianas, nos anos de 1781 e 1804. O seu magistério desdobra-se ainda pela publicação de um dicionário de língua portuguesa (1793), um tratado de versificação e por um Lexicon Latini que  contou sete edições.
Encadernada e em muito bom estado, a obra foi adquirida na Livraria Antiga do Carmo, ao alfarrabista José Ferreira, em 1988, por Esc. 1.500$00. Recentemente, a In-Libris tinha um exemplar à venda desta edição original pelo valor de 85 euros.

sábado, 13 de abril de 2024

O desabrochar da Amaryllis



Não veio ainda a tempo do seu encontro inteiro com a Primavera, mas a nossa Amaryllis, da varanda a leste, já se promete em duas frentes, pelo menos, como é costume em Abril, com todo o seu esplendor cromático.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Apontamento 164: Engano de alma + Hipocrisia

Quando li, há pouco tempo, que as embalagens dos medicamentos iriam deixar de ter a indicação do preço, achei um péssimo sinal. O cliente ficava sem nenhuma base para a comparação dos preços praticados pelas farmácias, perante a evidência que essa manipulação do preço existe.

Bem basta a recordação, de há décadas, de uma reunião conspirativa dos cabeças da Associação Nacional das Farmácias, com nomes sonantes, na área de partida do aeroporto de Lisboa, para não acreditar na inocência da medida.

Ora, então, hoje tive a confirmação. Encontrei um medicamento com o preço tapado, com fita, que felizmente consegui retirar sem estragar o registo original. Ficam as imagens entre o antes e depois da medida:



Por outro lado, desde a semana passada, por razão do novo governo, passei a ter umas indicações completamente hipócritas. Primeira medida de compaixão ?

 

No entanto, completamente hipócrita como se pode observar pelo confronto dos valores pagos !

Um aviso à navegação pelo quotidiano enviesado que nos espera, sem dúvida ! Para já fica o alerta !

Post de HMJ

Últimas aquisições (51)



A política de aquisições, cá por casa e nestes últimos meses, tem sofrido uma desacelaração saudável, felizmente, até porque o espaço para colocação de novos livros é já muito exíguo e nem sempre o mais apropriado. As novas leituras têm sido feitas dos volumes em reserva, que ainda são bastantes.
Mas há obras a que não se pode faltar. Em Novembro do ano que passou, centenário do nascimento de Jorge de Sena (1919-1978), a Universidade do Minho organizou o XXI Colóquio de Outono dedicado ao escritor português, tendo convidado vários docentes universitários nacionais e brasileiros para participar.
Algumas das colaborações vieram a integrar este livro Sena Hoje (Edições Colibri, 2023). Destaque para o estudo de abertura da obra, da autoria do catedrático Vítor Aguiar e Silva (1939-2022), no que terá sido, provavelmente, o seu último trabalho de investigação e ensaio - "Jorge de Sena e o conhecimento científico do texto literário".

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Pinacoteca Pessoal 202



Poeta e pintora, a norte-americana Kay Sage (1898-1963), no início dos anos vinte viria a fixar-se, com a sua mãe, em Itália; e, mais tarde (1937), na França onde viria a fazer a sua aprendizagem profissional e a casar com um aristocrata italiano, em primeiras núpcias.




Quase toda a sua obra se ressente da ausência da figura humana e os seus quadros marcados pelo surrealismo e pelos grandes espaços de vazio ou arquitectura foram influenciados por Giorgio de Chirico e Yves Tanguy (1900-1955), pintor com quem viria a casar, em segundas núpcias, no ano de 1940, nos Estados Unidos.



terça-feira, 9 de abril de 2024

Apontamento 163: Repensar a cidade

 


Ora, ontem, após um período de recuperação e melhoria na respiração, pensava retomar as minhas saídas, no Chiado e Rossio, etc.

Aproximando-me, de carro, do nosso poiso habitual, olhei em volta e a um centro de cidade transformado em “Disneylândia” e quejando, gentinha, sem rumo, sem eira nem beira, a circular onde eu pensava passar, concluí, mais uma vez, que a vontade de sair acabara naquele momento.

Concluí que a miséria física, cultural, mental e cívica, com que me deparara, anulou todo o meu desejo de passear pelas ruas que, em determinada altura no passado, tanto contribuíram para me enriquecer.

Nem se fala do ruído ensurdecedor, que os turistas julgam ser música e aplaudem, nem do atropelo ao código da estrada pelos TUC TUC, estacionados à balda junto de S. Pedro de Alcântara, ou dos autocarros de turismo que param onde querem, causando longas filas de trânsito pela paragem prolongada à espera de bimbos.

Post de HMJ

Impromptu 74

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Osmose 135


Há palavras que nos aproximam das origens ou nos abeiram do essencial, ainda que, a princípio, mal demos por isso, entretidos que estamos à tona do supérfluo. Como há também rostos, às vezes pelas ruas, que nos trazem, por semelhança extrema, boas memórias e presenças impossíveis, por desparecidas.
A imaginação latente é quase sempre agressiva para com a realidade.
E a vida, muitas vezes, parece uma fábula sonhada.
Preciso é pensá-la...

Do que fui lendo por aí... 63

 

Nem sempre os números coincidem entre os diversos relatos históricos, mas é sempre importante termos uma ideia do tamanho e proporção das iniciativas. Citando em abstracto Gomes Eanes de Azurara (1410-1474), J. T. Montalvão Machado refere a envergadura da armada para conquista de Ceuta (Agosto de 1415), na sua obra Dom Afonso, primeiro duque de Bragança (1964), a páginas 152, e nestes termos:

"Espectáculo inédito para os lisboetas, devia ser a partida de aquela numerosa e vistosa armada, que contava entre galés, naus,  fustas e pequenas embarcações, nada menos de 242 unidades, segundo dizem alguns historiadores. Azurara não se pronuncia sobre o número de barcos, nem sobre os efectivos que os ocupavam. Já se disse que embarcaram 50.000 homens, mas alguns autores supõem que não deviam ser mais de 20.000 os expedicionários."

sábado, 6 de abril de 2024

Para que conste

 

Aqui se regista a aparição das 3 primeiras andorinhas que vi este ano, pela manhã de 5/4/2024, no caminho para  a Trafaria, e hoje mais 6 na região outrabandista, em bando primaveril.

Guy Ropartz (1864-1955)

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Recomendado: cem

 

O livro acabou de sair, editado em Coimbra - Os Majores de Maio e outros contos de Abril. Como o subtítulo indica são: Ficções de três gerações. Ou não fosse a Família Monteiro, capitaneada pelo Augusto José, meu bom amigo, toda ela criativa, q, b. Filhos e netas ensaiaram a sua prosa sobre o tema candente e merecido do 25 de Abril. E com saudável bom humor.
Fica recomendado o livro!

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Curiosidades 104



Não será caso único nas letras francesas, pois também Jean Cocteau produziu desenhos de traço elegante, alguns dos quais ilustraram o Até Amanhã de Eugénio de Andrade, mas os trabalhos pictóricos de Paul Valéry (1871-1945) serão porventura mais escassos e menos conhecidos do grande público.
Valerá a pena, por isso, dar notícia que a Livraria Laurent Coulet (Paris), no seu catálogo 66, incluía uma aguarela do poeta e pensador francês (imagem acima), em jeito de auto-retrato de costas, pelo preço de 750 euros.

(Agradecimentos a H. N.)

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Citações CDLXXXVII

 

Não se pode pedir ao artista mais do que aquilo que ele pode dar, nem ao crítico mais do que ele pode ver.

Georges Braque (1882-1963), in Le Jour et la Nuit (1952).

terça-feira, 2 de abril de 2024

Da construção de um policial

 
Em 1931, Georges Simenon (1903-1989), em artigo para J. K. Raymond-Millet, que veio a ser publicado em Le Courrier cinématographique de 31 de Junho, descreve de forma sucinta e exacta o uso do seu tempo, centralizado na elaboração dos seus romances policiais. O modo exemplar e pitoresco do texto justifica, para registo do Arpose, que o traduza, com base no livro de Pierre Assouline, Simenon (pgs. 228/9). Assim:




"A minha existência está segmentada em períodos de quinze dias. Em cada um destes períodos, um romance é inteiramente composto. No primeiro dia, eu passeio, sozinho e ao acaso. Corro, sento-me ou ando. Observo quem passa. Dou espaço às minhas personagens. Apresento-as umas às outras. Vejo. Quando chego a casa, já tenho o «ponto de partida» onde se desenrolará a acção e a sua «atmosfera». Não me é preciso mais nada. E nem penso mais nisso. Deito-me. Adormeço. Sonho. As personagens crescem por dentro de mim e sem o meu concurso. Em breve já nem sequer me pertencem: têm a sua vida própria. No dia seguinte e dias posteriores, eu não tenho mais nada senão contar-lhes a história. Já lhe tinha dito que dactilografo eu próprio as minhas páginas directamente sem passar pela escrita à mão? Poucos retoques ou modificações. Os meus livos saem ao primeiro jacto.
Escrevo sempre sem um plano; deixo a minha gente agir e a história evoluir seguindo a lógica das coisas. Os meus romances têm geralmente doze capítulos. Começo um capítulo cada manhã, não mais. Isto não me ocupa mais do que hora e meia; mas em seguida fico vazio para o resto do dia. Bom! doze capítulos, portanto doze dias, e isto faz com o dia de preparação, treze dias. No décimo quarto dia, eu releio o meu alfarrábio. Corrijo os erros de distracção, a pontuação, talvez uma dezena de palavras em todo o texto. E levo a obra ao meu editor. No décimo quinto dia, recebo os meus amigos, respondo às cartas que recebi entretanto durante essa quinzena, e dou entrevistas. E tudo isto recomeça exactamente da mesma forma, durante a quinzena que se segue."

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Revivalismo Ligeiro CCCXXVII


Além da canção Penina (1968) que resultou da passagem de The Beatles (Paul McCartney) pelo Algarve, ficou também este Ciao, Porto, muito obrigado (1960), da estadia e exibições de Marino Marini (1901-1980) e do seu conjunto pela Invicta. Recordo que, apesar da pobreza ou simplicidade da melodia e letra, esta música, nos anos 60, era até muito tocada em bailes de província, pelo menos, e entre os adolescentes da época.

Inesperadamente


Nada faria supor que, numa espécie de golpe de mágica, Pedro Passos Coelho (1964) se tornasse reitor da Universidade Católica, derrubando a conceituada senhora reitora Isabel Capeloa Gil, com o apoio soez de Miguel Relvas e do monárquico Sousa Lara. Há também quem diga que contou com o voto encapotado do fadista e político Nuno da Câmara Pereira. Bem como com a benção apostólica de D. Américo Aguiar.

Adagiário CCCLXIV



1. Se vives na aldeia, ela é a capital. 

2. Cuidado com uma mulher bonita: é o pimento vermelho.

3. O grito de mil pardais é inferior ao de uma só cegonha.

4. O pensamento do homem e a corrente do rio podem mudar de sentido durante uma noite.


(Referidos como provérbios japoneses, por Wenceslau de Moraes, in Cartas, II, 342-345.)

domingo, 31 de março de 2024

Assim amanheceu...



 ... o Domingo Pascal, na região outrabandista.

Aproveitamos para renovar os nossos melhores votos pascais para os Amigos e  Comentadores. E visitas.

Johann Kuhnau (1660-1722)

sábado, 30 de março de 2024

Apontamento 162: Em Louvor de Olaf Scholz, contra a ignorância mais que atrevida, i.e. a completa menoridade de leitores




É costume, na Alemanha, haver manifestações pela PAZ por altura da Páscoa, ainda bem!

Ao mesmo tempo, é o Chanceler que transmite uma mensagem de paz e tranquilidade aos cidadãos, alguns ainda tão habituados a tempos de Guerra.

Desta vez, e como é costume do Chanceler Olaf Scholz, ele fez uma intervenção curta, sucinta, muito objectiva e explícita, para caracterizar o momento histórico e os desafios das democracias na defesa das liberdades. Sublinho, também com orgulho, que me identifico, em pleno e com os tempos que correm, com o registo deste Chanceler HANSEÁTICO !

Verdade seja que a maioria da imprensa, e outras forças menores, não entendem a elevação do seu magistério! Sinais do tempo que também nós por cá já conhecemos.

Ora, tendo acompanhado a intervenção do Chanceler através do semanário DIE ZEIT, jornal que acompanho com eventuais desvios menos objectivos para o DER SPIEGEL, não descendo, obviamente, a patamares inferiores de credibilidade jornalística, não encontrei nenhuma complexidade na mensagem emitida.

Para não haver dúvida sobre a sobriedade da intervenção, pode consultar-se o discurso aqui:

https://www.bundeskanzler.de/bk-de/aktuelles/kanzler-kompakt-ostern-2024-2268040

Depois de ouvir o discurso do chanceler, de uma clarividência sucinta, breve, mas completamente acessível, desci para os “infernos” dos comentários. Eis não quando dou com um infeliz analfabeto, que até se identifica como “bávaro”, dizendo que não percebeu o discurso, qualificando-o de “pouco claro” (?)

Ficou o incómodo, CÍVICO, DEMOCRÁTICO, CULTURAL, que motiva este “poste”.

Com a revolta perante um leitor do DIE ZEIT, que  não percebe uma mensagem simples de Páscoa do Chanceler Olaf Scholz de ca. de 1,5 minutos, mas que se acha no direito de empestar contra os órgãos eleitos pelas regras de democracia em vigor, confesso que cada vez tenho menos paciência e tolerância para a burrice.

Post de HMJ

Mudança de Hora

 

Na madrugada deste Domingo de Páscoa (31/3/2024), os relógios deverão ser adiantados sessenta minutos, da 1h00 para as 2h00, iniciando-se assim o horário oficial de Verão.

Boa Páscoa, para todos os que por aqui passem!

Rimsky-Korsakov (1844-1908)

sexta-feira, 29 de março de 2024

Apontamento 161: Episódio com final feliz

 


Durante vários anos, e por motivos familiares, deslocava-me com frequência de avião, utilizando, entre outros, o aeroporto de Bruxelas, Zaventem.

Um dia, sentada na área de espera para o embarque para Lisboa, saíram os passageiros do avião que acabara de chegar, quase todos apressados, excepto uma figura, de estatura mediana, a circular com vagar a olhar para os presentes, visivelmente interessado em ser reconhecido.

Tentei identificar a criatura com uma pessoa publicamente conhecida, sem sucesso na altura. Posteriormente consegui ligar a imagem ao político Paulo Rangel, também por alguns devaneios que a imprensa divulgou, esquecendo-se, contudo, rapidamente do caso como costuma ser regra na actual comunicação social. Rápida em lançar iscos, pobre em pescar algo que se veja.

No entanto, este episódio, no aeroporto de Bruxelas, teve agora um final feliz. Tanto andou a pessoa a viajar que, daqui em diante, terá o seu emprego assegurado a deslocar-se agora pelo mundo em representação do país. 

Post de HMJ

quinta-feira, 28 de março de 2024

Ideias fixas 85

 
Até às 19h35 de hoje, um hacker mecânico e apalermado, aparentemente oriundo de Singapura, já tinha visitado por 199 vezes o Arpose. Nunca percebi o que é que estas bestas acéfalas cá vem fazer, e o que ganham com isso. Agora imagine-se o que é que a tão falada Inteligência Artificial não fará de melhor, neste particular?!...

Uma fotografia, de vez em quando... (181)



O fotógrafo britânico, nascido na Birmânia, Chris Steele-Perkins (1947) integra a agência Magnum desde 1979, por mérito próprio e qualidade da sua obra.
Estáticos, naturalmente, os seus instantâneos têm quase sempre por subentedido o movimento.






Sendo, no entanto, também um notável retratista de gente comum. 



terça-feira, 26 de março de 2024

Antologia 18



Tenho dúvidas se os livros de Wenceslau de Moraes (1854-1929) serão ainda hoje procurados e lidos. Para quem queira ter uma ideia do Japão antigo, as suas obras serão, no entanto, imprescindíveis. Mas depois dum ressurgimento, merecido, da sua pessoa devido ao diplomata Armando Martins Janeira (1914-1988) e da reimpressão dos seus livros, nos anos 70 do século passado, pela Parceria A. M. Pereira, creio que o escritor terá entrado num certo limbo de apagamento.
Para contrariar um pouco esse esquecimento, vou aqui deixar um pequeno extracto pitoresco repescado duma antologia organizada por A. M. Janeira para a Portugália Editora , em 1971. Segue (pgs. 198/9):




"Eu tenho aqui um galo e três galinhas, de raça anã, vulgar neste país (Japão); quase do tamanho de pombos. Nem eu poderia passar sem ouvir, todas as madrugadas, cantar o galo, em minha casa. Porquê? Difícil de explicar. Um sentimento herdado, presumo. O cantar do galo sugere-me miragens de um mundo de delícias - alacridades campesinas, alegrias de aldeia, vida serena no lar, com esposa e muitos filhos... - Eu devo ter tido algum remoto avô, que nunca viu o Oceano, que nunca sonhou com viagens e em países de exotismo, que viveu feliz na sua aldeia, rodeado de família, entretido na lavoura, escutando o boi de trabalho mugir cerca, os cães de guarda em seus latidos, os galos a cantarem; e dessa orquestra rústica de vida simples, enlevo do velho parente ignorado, ficou-me, talvez, o amor pelo cantar do galo, ao alvorecer."

segunda-feira, 25 de março de 2024

Citações CDLXXXVI



A nossa esperança de imortalidade não vem de nenhuma religião, mas quase todas as religiões provém dessa esperança.

Robert G. Ingersoll (1833-1899).

domingo, 24 de março de 2024

Vontade

 
Sempre quis que o Arpose não fosse um blogue demasiado fútil, repetitivo e desmiolado, nem excessivamente sério e grave, ou seja, que também se pudesse rir, de forma saudável, de si mesmo...

sábado, 23 de março de 2024

Maurizio Pollini (1942-2024)

Mercearias Finas 198

 

Não tenho a menor dúvida na opção, por entre atum e espadarte, prefiro um bife deste último. Ainda para mais estavam os dois peixes ao mesmo preço: 22,50 euros o quilo, na banca do mercado. E frescos.
Batatas fritas e grelos salteados, como acompanhantes dos bifes de cebolada.
Havia que fechar  com chave de ouro: escolhi bem, um Alvarinho de Monção 2017 - esplêndido!
Tive foi que o decantar, 7 anos para um branco é muito tempo de adega...

sexta-feira, 22 de março de 2024

Publicar, ou não

 

Será sempre uma questão interminável, essa que divide leitores e críticos conscientes: se se deve ou não publicar livros que um escritor deixou inacabados. Póstumos e não revistos pelo autor, a dúvida permanece, se se justifica ou não editá-los.
Eça, Sena estão aí para exercício e juízo de quem queira pronunciar-se.
O útimo caso foi a publicação recente de "Vêmo-nos em Agosto", romance póstumo e inacabado de Gabriel García Márquez (1927-2014) que os filhos do Nobel da Literatura de 1982 resolveram editar.
Descontando o habitual acriticismo mediático português, que sempre bate palmas a estas coisas, apoiado provavelmente pela editora lusa que publicou a obra, ao contrário o jornal alemão Die Zeit fez uma abordagem negativa do facto. Mas também Le Monde des Livres (15/3/2024) se pronuncia criticamente assim: "... le livre présente des défauts et incohérences, et la chute laisse le lecteur sur sa faim." Embora atenuando depois: "Mais l'extraordinaire puissance narrative est là, de même que la fulgurance de certaines images, drôles, piquants, ou l'art de mêler truculence et délicatesse."
Enfim, não há nada como ler esta obra de García Márquez, para se fazer um juízo pessoal ainda que subjectivo.

quinta-feira, 21 de março de 2024

2 Haiku, no dia da Poesia

 

Este dia tão longo
bem pequeno embora
para o cantar da cotovia.
...
Aos amantes da lua
as nuvens, às vezes,
oferecem uma pausa.


Matsuo Bashô (1644-1694)

quarta-feira, 20 de março de 2024

AELIS - La Quinte estampie réale (XIII° siècle)

Citações CDLXXXV



O ódio não é senão um defeito da imaginação.

Graham Greene (1904-1991).