sexta-feira, 26 de julho de 2024

Para lembrar

 


De cada grão de pele fazer um lábio
em breve lume o gesto desenhado
de uma a mil a língua descobrindo
cada vitória exacta de um salgado
contorno se constrói a própria sede
na seara que se esconde o sol de nada
ou ícaro suspenso revelando 
que gota a gota as asas se desprendem


António de Almeida Mattos (1944-2020), in O Quinto Elemento (1987). 

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Retro (119)

 

Por boas ou más obras, é certo que os ditadores asseguram o seu futuro na História.
Não se esgotou, pelos vistos, nas terras de estranja, o interesse pela figura de Salazar (1889-1970). O jornal Le Monde dá conta, no seu suplemento literário (5/7/2024), através de uma breve recensão crítica de Nicolas Weill, da saída de um grosso volume (528 páginas), Salazar, le Dictateur Énigmatique, de Yves Léonard (1961), historiador e especialista em assuntos portugueses.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Notas de um quotidiano decadente 1: Ausência de civilidade

 

Sempre me debati, com veemência e durante a carreira que a tanto me obrigava, a favor de um respeito e de uma separação absoluta do espaço público do privado. 

Convinha ensinar que nem tudo era permitido no espaço público, ficando reservado ao privado, e ao recato da casa, uma convivência familiar eventualmente disfuncional.

Portanto, fazia parte da civilidade humana respeitar normas mínimas de vivência em sociedade, conhecendo os respectivos direitos e deveres.

Ora, como se vê pela imagem, já se encontra uma vida familiar exposta e com abuso do espaço público, sujeitando a vizinhança, debaixo das suas varandas, a este espetáculo deprimente.

Falta o cão, pendurado na porta da caravana, a ladrar, arruído que costuma fazer, durante tempos sem fim, da varanda dos donos da caravana, do seu andar contíguo que, pelos vistos, se alargou à zona do estacionamento público do prédio. Infelizmente, temos aqui mais um exemplo de um quotidiano em decadência. 

Post de HMJ

Um "cortiço" venezuelano de Caracas

 

Viver assim não convida...

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Perguntar, ofende?

 
Durante cerca de 15 minutos, os inefáveis serviços da RTP 3 brindaram-nos, em directo e com tradução simultânea, no noticiário das 19h00 de hoje (22/7/24), com um discurso bacoco e pueril do vice-presidente do marcano Trump. Jovem que me fez lembrar, para pior, o nosso Bugalho nacional, agora promovido a europeu.
Perguntei-me quanto terá recebido a RTP 3, dos fundos de campanha do partido republicano de Trump, pela transmissão desta indigente propaganda eleitoral.

domingo, 21 de julho de 2024

Um fado já antigo


Com poema de Pedro Homem de Melo (1904-1984) e música de Frei Hermano da da Câmara (1934) são muitas as versões posteriores deste fado (Amália, José Cid, António Zambujo...) que tem ainda um arranjo musical e interpretação de Sérgio Godinho. Sendo que, na minha opinião, esta versão me parece das melhores.

sábado, 20 de julho de 2024

Ideias Fixas 88

 
Bill Gates bem pode pintar a cara de preto, pai que foi da Microsoft. Quanto às doçuras e excelências da segurança norte-americana e o seu profissionalismo, depois do tiro orelhudo e do apagão informático global, acho que estamos conversados, definitivamente...
God bless America!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Uso Pessoal 20

 

No tempo em que nem todos os hotéis tinham serviço de engomadoria, este ferro de engomar miniatura ia de viagem, pela mão de minha Mãe. Duvido, no entanto, que alguma vez eu o tivesse utilizado, nem mesmo nos meus breves tempos de Coimbra, mas lembro-me bem dele, e como era útil, para podermos andar asseados.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Antologia 20

 


De Le Crépuscule des Pensées (L'Herne, 1991), de E. M. Cioran, em versão portuguesa:

pg. 92 - Existem olhares femininos que têm algo da perfeição triste de um soneto.

pg. 101 - A palidez mostra até que ponto o corpo pode entender a alma.

pg. 124 - O gosto violeta da infelicidade.

pg. 143 - Há dores cuja desaparição do céu poderia consolar.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Paul de Schlözer (Moritz Moszkowitz) /Jorge Bolet

Constatação


Calada que nem um rato, uma visita duma companhia de seguros portuguesa, andou a passear pelo Arpose um bom bocado, mas sem deixar qualquer sinal, para além do nome da empresa.
É o que acontece com mais de 95% dos visitantes: aproveitam-se, mas não têm opinião, nem gastam energia...  Os coitados!

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Impromptu 76



Olhem-me para este farsante, nos seus preparos e atavios, com a mulher, para assistir ao casamento de um riquíssimo indiano. Sempre disposto a vestir qualquer papel para ganhar mais dinheiro.
Como Schröder e Hollande, nos seus outros respectivos países, que se disfarçaram de socialistas, para serem os coveiros dessa ideologia de esquerda.

domingo, 14 de julho de 2024

sábado, 13 de julho de 2024

Usura e ganância


O Sala e o Isidro, na tv, vão fazendo pela vida render as suas debilidades auditivas, enquanto o Ruy de Carvalho, grande actor pela idade provecta, vai vendendo, por anúncio patético, a sua falta de mobilidade já crónica. Um pouco a exemplo do Biden ou do Ronaldo que ainda tentam explorar ao máximo as suas já notórias e visíveis incapacidades gerais. Devem querer mais rendas chorudas...
No restaurante, quase pleno e já ruidoso, há férias, o bem magro empregado sénior (75 anos?) poupava-se nos contactos com os clientes novos, não evitando os antigos e habituais, e discretamente ainda nos foi servindo tudo de forma atenta e profissional, muito a contento.
O linguado grelhado e os chocos com tinta estavam óptimos. As peras bêbadas e a tarte de lima, também.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Electra

 

Com o habitual bom gosto interior iconográfico (embora eu não goste da capa*), acaba de sair o número 25 da revista Electra, do Verão de 2024. Com a temática principal dedicada à Mentira, contém um bom artigo dedicado à pintora Georgia O'Keeffe, bem como mais três sobre gastronomia, entre outros.

* Bernd Jansen.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Bibliofilia 214

 

Hesitei ao decidir incluir este livro Dictionary of Film Quotations, de Tony Crawley, editado em 1994, na rubrica Bibliofilia do Arpose. Foi baratíssima a obra usada, mas tem-me sido útil para localizar algumas tiradas célebres da história do Cinema. Os bons cinéfilos não precisariam deste guia para situar algumas frases icónicas de actores conhecidos que marcaram alguns dos seus filmes. Algumas palavras também eu as decorei, e aqui as deixo, no inglês original, com o nome dos artistas que as disseram. Fica, para os cinéfilos que visitem o poste, o exercício de adivinharem o nome do filme em que foram pronunciadas. Aqui vão:

1. Louis, I think this is a beginning of a good friendship.  Humphrey Bogart (1899-1957).

2. My name is for my friends.  Peter O'Toole (1932-2013).

3. Go ahead, make my day! Clint Eastwood (1930).

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Desabafo (89)

Só nos faltava agora os "vencedores" não se entenderem e o Micron insistir em impor o bogalho gaulês como primeiro-ministro da bananalândia francesa.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Da leitura (58)



Penso que há livros que têm um tempo próprio para serem lidos: a infância, juventude, a idade madura. Mas há quem subverta tudo isto, talvez por desarrumação natural.
Estou a tentar ler, embora devagar, O Doutor Jivago, de Boris Pasternak, livro que, na juventude, não consegui ler quando saiu, editado pela Bertrand.
Vou na página 25, a ler vamos...

Alessandro Scarlatti (1660-1725)

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Citações CDXC


Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. Governar é escolher, ainda que as opções sejam difíceis.

Pierre Mendès France (1907-1982), em discurso na Assembleia Nacional (3/6/1953).

domingo, 7 de julho de 2024

Adenda

 


Faltava o tinto. Neste Dia Nacional do Vinho. E embora o jantar se anunciasse modesto, havia que depositar a nossa esperança e expectativa em França.
E isso bastou para que eu apostasse num vinho icónico, para mim. Calhou um teenager do Douro, já testado, Flor das Tecedeiras 2008, com 14º, composto de Touriga Nacional e Franca, Tinta Barroca e Roriz, Amarela e Tinto Cão, quanto a castas, com cepas velhas (cc. 100 anos) e novas. Estava magnífico e com taninos ainda por domar - pode bem guardar-se por mais dez anos, à vontade e confiança.
E a França portou-se bem, felizmente, apesar das cassandras vendidas e mediáticas...

Recomendado : cento e dois

 

A perspectiva anunciadora da manhã foi o suburbano e domingueiro apito da gaita de beiços do "compõe louças e guarda-sóis", vulgarmente conhecido por amolador, que hoje é já raríssimo e apenas  autóctone. Este, motorizado, de condição ligeiramente  melhorada, ao tempo. Para os linguados frescos, médios e bonitos, eu tinha escolhido um vinho branco, que esperava promissor: Coutada Vellha 2023, da Ravasqueira (Arraiolos), alentejano. Batatas cozidas e uma couve-flor maneirinha acompanhariam o almoço.
Do lote, principesco, enológico costavam Alvarinho, Antão Vaz e Arinto. Um trio maravilha.
Chicoespertamente, de algum tempo a esta parte há umas 3 grandes superfícies que propagandeiam descontos miríficos extraordinários em alguns dos seus produtos. Este vinho Coutada Velha comprei-o a 3,89 euros. Mas seria de 12,99, segundo o Continente. Não dá para crer: ou o Produtor (Ravasqueira) é um comerciante suicida ou o vendedor (Continente) é extremamente generoso a perder dinheiro e perdeu o sentido do negócio. (Ciclicamente, há destes milagres de Fátima, no negócio nacional...)
E aqui fica assim a minha contribuição de poste, no Dia Nacional do Vinho.

sábado, 6 de julho de 2024

Uma fotografia, de vez em quando... (185)


 
O fotógrafo francês Pierre Gonnord (1963-2024) foi sobretudo um notável retratista e fixou-se a partir de 1988 em Espanha, onde veio a falecer. Os seus interesses foram sobretudo gente marginal e nómadas que preenchem uma grande parte da sua obra.


Na segunda década do século XXI, dedicou-se a fotografar grupos de ciganos que, vindos de Espanha, se dirigiam para Estremoz e Évora. Estas obras vieram a contribuir para uma exposição que fez, nos Estados Unidos, em 2015. Com grande sucesso, aliás.



sexta-feira, 5 de julho de 2024

Memória 150

 


Aqui há 54 anos atrás (Domingo), em Braga, por esta hora, estava um grande calor semelhante ao da zona outrabandista, hoje, por aqui.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Divagações 195

 
O esquecimento pode ser uma tragédia, com a idade. Mas a repetição de narrativas, por lapso, é, no mínimo, um aborrecimento difícil de suportar, muitas vezes. A coberto da intimidade, devemos libertar a verdade, com prudência, e à medida da confiança que temos do outro. E da sua abertura e tolerância.

terça-feira, 2 de julho de 2024

Curiosidades 105


Tália, Jampal (também conhecida popularmente por João Paulo) e Vital estavam, entre muitas outras castas brancas portuguesas, da região de Lisboa, e tal como o lince de Malcata, mais a Sul, em progressão acelerada para a extinção, aqui há uns anos atrás. O lince alentejano, extinto, foi recuperado graças à colaboração dos ambientalistas espanhóis e está hoje com uma população estável e progressiva nos seus antigos territórios nacionais.
Salutar e naturalmente, a Tália e a Vital foram-se mantendo na região de Lisboa. E graças a um brasileiro, de origem húngara, André Manz, que veio para Portugal, há cerca de 30 anos, a casta Jampal existe e produz vinho em Cheleiros (Mafra), sob a marca de Dona Fátima. Foi uma boa notícia que tive, pois cheguei a provar este vinho de Cheleiros, nos anos 70, que era muito agradável e apaladado.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Esplendor

 

Se o limoeiro e as oliveiras não nos trouxeram grandes alegrias este ano, o vaso das hortênsias, apesar de pequeno, floriu de forma exuberante, na varanda a Sul, como se pode ver pela foto tirada por HMJ, hoje.

Fausto Bordalo Dias (1948-2024)


Com as melhores memórias, imperecíveis, do venturoso ano de 1986.

Adagiário CCCLXVIII


 

Quem não tem cavalo, monta no boi.