Ler um jornal atrasado tem algumas peculariedades singulares, sobretudo porque nos desaproxima da emoção das notícias, deflaciona os acontecimentos, redu-los, muitas vezes, a cinza fria.
Será, de algum modo, a mesma sensação que perpassa pelas novelas de Somerset Maugham, quando o escritor britânico descreve a leitura de "The Times", duas ou três semanas depois de publicado, às mãos dos administradores do Império, na Índia, em Singapura... Provavelmente, impressões semelhantes que experimentavam os administrativos portugueses, nas colónias, quando recebiam, por exemplo, o DN, com semanas (?) de atraso. Isto, antes da Internet baralhar os dados, através das auto-estradas de informação.
Havia em tudo isso uma vantagem, porque o tempo resolve algumas coisas, remedeia outras, reduz os acontecimentos a uma mumificação do passado, com o seu valor mais relativo. E poupa-se na leitura. Hoje, ao folhear um jornal de há doze dias, fiz, natural e mecanicamente, uma triagem salutar. Ficaram as crónicas intemporais, uma entrevista que podia ser de ontem, duas ou três informações de interesse e pouco mais. A maior parte das notícias, até as de primeira página, tinham perdido o picante, a importância (que lhes tinha sido dada), a actualidade fremente, enfim, pela banalidade que o tempo introduzira nos seus desenvolvimentos.