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domingo, 24 de abril de 2016

Os pestíferos enfumarados


Quando me posicionei debaixo do amplo toldo exterior de "O Escondidinho", já o sr. Laureano lá estava a fumar, e a chuva caía, abundantemente. Eu vinha de umas espantosas migas (interiores) com espargos verdes que acompanhavam a carne de alguidar bem temperada. Já não me lembro qual de nós abriu o jogo sobre madeiras, acrílicos, proibições, tabaco e fado. E íamos fumando, com gosto, quando se nos juntou, nesse improvável retiro de pestíferos, o sr. Rodrigo, de 80 anos, já com setenta bem medidos de tabaco. Mas foi sempre o Laureano o orador principal. Com 63 anos, fora amigo de peito da Hermínia Silva e, embora carpinteiro de profissão inicial, conhecera Fernando Farinha e tinha chegado a cantar à desgarrada com o Marceneiro. Que até lhe dera, disse-me, um fado (do Cavador?), para ele interpretar. Benavente e Lisboa tinham sido terreiro da sua voz limpa e clara. Quando falava de Hermínia, porém, os olhos verdes de Laureano toldavam-se de mágoa. Quase como a chuva que caía. Neste mês de Abril e em Montemor-o-Novo.
Despedi-me deles, com pena. Desejando-lhes muitas e boas cigarradas, assim também, em amena companhia e cavaqueira. Apesar da chuva.