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sábado, 16 de setembro de 2017

Divagações 125


Eu creio que os escritores, ditos regionalistas, estão em queda livre, nas preferências dos leitores.
E também sempre achei que Aquilino Ribeiro (1885-1963) estava para a Beira Interior, assim como Tomaz de Figueiredo (1902-1970) se posicionava para o Minho. Sem comparar qualidades.
O que eu não esperava, é que pudesse vir a comprar, em S. Martinho de Anta, e sob o alto patrocínio de Miguel Torga (1907-1995), um voluminho simpático e bonito sobre a vida e obra do autor de Nó Cego (1950). Mas assim foi, e bem, que o livro é merecedor e o romancista bracarense, também.



Conheci-o, de vista, já lisboeta adaptado, em meados dos anos 60, no Café Ceuta (Av. da República), perorando a uma mesa do canto, entre o poeta Mendes de Carvalho (1927-1988) e a, depois, actriz, Maria do Céu Guerra (1943). Falaria do Minho, com certeza, e das suas andanças passadas, dos seus cães e caçadas, mas também da sua meninice, naquele seu muito próprio vocabulário antigo e riquíssimo de que os seus livros estão engrinaldados. Eu não trocaria os seus Tiros de Espingarda (1966) por quantos tordos já se publicaram; nem o Dicionário Falado (1970), interessantíssimo, eu trocaria pela prosa deslavada do mãezinha caxineiro. Que a prosa de Figueiredo é como prata de lei... Desconto-lhe a poesia, que é fracotinha.



Pois, do Centro Miguel Torga, lá trouxe esta monografia sobre as andanças de Tomaz de Figueiredo, para matar saudades do seu linguajar minhoto, genuíno. E fiz muito bem. Regalei-me...

sexta-feira, 2 de junho de 2017

A lira consumida


Faleceu ontem o poeta Armando da Silva Carvalho (1938-2017).
Li-lhe alguns dos seus primeiros livros, com gosto e proveito. Mas, depois e com o andar dos anos, comecei a situá-lo entre Mendes de Carvalho (hoje, completamente esquecido) e Alexandre O'Neill, pela feroz claridade das suas sátiras aciduladas. E, aí, eu preferia, sem dúvida, a mordacidade criativa de O'Neill, onde sobrenadavam quase sempre alguns pequenos filamentos de ternura.
Mas aqui deixo estas palavras de leitor antigo, pelo seu desaparecimento.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Tomaz de Figueiredo



Nunca lhe falei, mas ouvi-o de perto - voz rouca ou áspera, rosto queimado ou moreno intenso. Ao fundo, no canto esquerdo, depois do jantar ia tomar o café à "Pastelaria Ceuta", na Avenida da República: Lisboa, anos 60. Esperava ou esperavam-no a Maria do Céu Guerra (1943), ainda não conhecida como actriz, e o Mendes de Carvalho (1927-1988), poeta já publicado. Ela sardenta (?), ele, de barba cerrada e pele muito branca, contrastavam com o moreno acentuado de Tomaz de Figueiredo (1902-1970) e por lá ficavam discreteando, mais o escritor do que o casal jovem que lhe fazia companhia. Verdadeiramente, só o li mais tarde, a este bracarense ilustre que vem da linhagem de um Camilo e de um Aquilino, embora menos dotado, mas com o mesmo amor à língua portuguesa. Por isto se me fêz referência incontornável, com os seus profundos conhecimentos do linguajar minhoto, a mim que o sou apenas de adopção. De Tomaz de Figueiredo, ao "Nó Cego" e "Dom Tanas de Barbatanas", prefiro, sem dúvida, os contos de "Tiros de Espingarda" ou o inclassificável, mas bem pitoresco "Dicionário Falado" em que, através das memórias minhotas da infância, vai explicando termos e palavras (quase) perdidos no tempo. Para se ver - quem não conheça - o estilo do Autor, aqui vai um "cheirinho" do "Dicionário Falado", publicado postumamente em Dezembro de 1970.

"Neste caso, o que nem sempre acontece, a razão da palavra entende-a à primeira todo o provinciano, maiormente caçador, se lhe forem os cães companhia, tanta vez derradeira família, de quem já só receberia amor.

Visual e sonora, vem a razão do beber dos cães. Língua de fora, lingua de colher, lape-lape, «lapam» os cães, em três tempos, um panelão de caldo. Para «lapar», com a sabida fome canina, eles! E até o que nem se esperaria «lapam», os «lapadores»!

Da canzoada lá da minha casa constou um diabo de cão, linda pinta, espetada orelha, pelagem de avelã, mas um morcão, um pastelão, que só comia, dormia e amava, que apenas para ofício de corpo presente levávamos ao monte. Maus narizes decerto: a esgana, em cachorro, lhos secaria, coisa de que desconfiava o «Marquês», curador de gado e outros animais, que, com o Armada, o Tinente e o Mata-Leões, também desfechava a escopeta de fósforo em coelhadas pelas bouças da Toca..."