"Até muito recentemente um homem sentia orgulho por não ter que ganhar a vida, e tinha vergonha por ter de o fazer. Mas, hoje em dia, ao requisitar um passaporte, alguém ousaria descrever-se como um cavalheiro que vive dos seus rendimentos, se de facto os possui, e que não trabalha? Hoje, a pergunta «O que faz?» significa «Como é que ganha a sua vida?». No meu passaporte sou descrito como «escritor»; o que não me incomoda quando contacto as autoridades, porque os oficiais da polícia ou guardas alfandegários sabem que alguns escritores ganham muito dinheiro. Mas se um estranho, no comboio, me pergunta o que é que eu faço na vida, nunca lhe respondo «eu sou escritor», com receio que ele continue a perguntar-me o que é que escrevo; responder «poesia» colocar-nos-ia num embaraço, porque ambos sabemos que ninguém pode ganhar a vida simplesmente escrevendo poesia. (A resposta mais satisfatória que eu descobri, satisfatória porque faz cessar toda a curiosidade, é dizer «eu sou historiador da Idade Média».)"
W. H. Auden (1907-1973), in The Dyer's Hand.
Lembrei-me de um amigo comum que era historiador da Idade Média. Terá tido alguma experiência assim? :-)
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