Depois de Valéry, vendo passar as aves, já é tempo e horas de regar as plantas.
A vida é, em si, uma sucessão de capítulos desirmanados, quando não é de fragmentos de acaso e tarefas pontuais de obrigação, com alguns intervalos de prazer a que, por vezes, nos podemos dedicar. Interligados por um corpo, pontualmente, acrescido de um espírito.
E os portugueses são mestres a defrontar o imprevisto e a abandonar-se ao fragmentário. Mesmo aqueles que, dotados de talento, se dispersaram em obras menores, delapidando a qualidade que teria podido produzir uma obra maior, mesmo que fosse a única. Talvez por isso somos um país de poetas e não de coerentes romancistas. Mas não somos os únicos.
Abordemos três casos estrangeiros, para vermos o tema mais a frio. Três nomes: Alain, Paul Valéry, E. M. Cioran. Cronologicamente: a paciência, a intensidade, a provocação. Porque também o que ressalta é o fragmentário das suas obras. E se é estimulante lê-los!... No entanto, nunca farão o corpo perfeito dos "Essais" de Montaigne (pese embora um pendor fragmentário), ou microcosmo do absoluto e universal que encontramos em "O Leopardo" de Lampedusa.
Creio que falta, muitas vezes, ao talento a estratégia que pode produzir o génio.
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