As rolas começaram a arrulhar muito cedo e, pela primeira vez, que me lembre, achei-lhes o canto monótono e impertinente - porque eu tinha dormido pouco. Depois, quando estava à espera de ouvir os melros, no seu cantar melodioso, para me aquietar, vieram os pardais na sua algaraviada imparável, buliçosos dentre a folhagem frondosa de uma árvore próxima. Dos melros, já passava das oito e meia, e nada. Mas pouco antes, quando eu saíra para comprar o jornal, tinha visto um. Jovem pelo tamanho, nos seus passinhos ritmados por pausas, mas miúdos e nervosos pela estrada sem carros à hora matutina, a bicar no chão o seu sustento, mas calado e atento: primum vivere, deinde philosophari.
Faltava muito pouco para as nove, quando ouvi o primeiro trinado, próximo da varanda a leste. O melro já devia ter o papo cheio... Chegara a vez de cantar.
É que o melro conheceu a cigara, a da fábula... Não a que foi para Paris...
ResponderEliminarConfesso que acho infernal o arrulhar das pombas e rolas - mas adoro o chilrear dos pardais e dos melros.
ResponderEliminarTalvez este melro seja dos sábios, JAD, porque habitualmente eles começam a cantar mais cedo...
ResponderEliminarEmbora eu goste de rolas, Margarida, penso que vou passar a detestar o arrulhar delas, de futuro.
ResponderEliminarGostei do poste e dos comentários. :)
ResponderEliminarApraz-me. Infelizmente, MR, as rolas ainda não se calaram...
ResponderEliminarTraga o monarca espanhol... Pode ser que torne a fazer a pergunta que lhe deu mais fama nos últimos tempos: porque non te calas!
ResponderEliminarE hoje continuam...Será este canto plangente um sinal para acasalamento (diria um romântico)? E se as rolas não forem monárquicas (perguntaria um satírico)acatariam a ordem do rei?
ResponderEliminarEu diria, simplesmente, que começo a ficar um pouco farto deste arrulhar contínuo...
Quando me casei, vivi durante uns tempos numa casa em Campo de Ourique, onde uns pombos decidiram fazer ninho. Fiquei a detestá-los para sempre: desde as quatro da manhã não se calavam, com um som gutural e irritante; faziam uma porcaria desgraçada e destruíram as pobres flores que tentei pôr na janela... Uma imagem que me ficou para sempre é a das suas horrendas patinhas a andarem na minha janela de um lado para o outro. Foi aí que percebi a relação entre as aves e os dinossauros.
ResponderEliminarPerfeitamente elucidativa, Margarida, a sua experiência passada. E, nos últimos anos, pela sua excessiva proliferação e consequente atrevimento e agressividade, 2 aves, pelo menos, perderam todo o seu "encanto" poético, para mim: as gaivotas e as pombas.
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