sábado, 9 de junho de 2012

Um poema de Alfred Brendel


Demónios
que mal conseguimos
distinguir dos deuses
brincam pelas rugas da nossa alma
como instrumentistas
cheios de brio ou amargura
e quando nos beliscam
nós choramingamos
como cães
que querem sair
para uivar à lua
nós bem queríamos como cães
morder os nossos torturadores
e no entanto acabamos por morder
a nossa própria língua.

Nota: Alfred Brendel (1931) é conhecido, sobretudo, como pianista, menos como ensaísta da obra de Beethoven e outros compositores. O que nem toda a gente saberá é que Brendel também escreve poesia. O poema, traduzido da versão francesa (o original é em alemão) de Marie-Dominique e Hédi Kaddour, pertence à colectânea "Kleine Teufel".

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