quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Lembrar

 

Vêm da infância

Vêm da infância, essas mulheres.
Caladas, discretas, sem pressa
de existir. Esplêndidas mulheres essas,
penteadas com a risca ao meio,
as orelhas descobertas pelo cabelo
de sombra clara.
No seu coração o mundo
não era tão pequeno e o que faziam
não lhes parecia humilhação.
Sabiam envelhecer com a vagarosa
luz das crianças
e dos animais da casa.
A par da rosa.

Eugénio de Andrade (1923-2005), in O Sal da Língua (1995).


Nota pessoal: é habitual que, dos poetas consagrados, nas citações se reproduzam não muito mais que 5 a 10 poemas, sempre os mesmos, até à exaustão, numa cacofonia delirante. Para lembrar Eugénio preferi, escolher um poema menos conhecido, mas que não deixa de ser um belo poema.

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