quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Despojos e nostalgia


As casas, hoje em dia, são pequenas e, normalmente, apenas andares onde desaguam as coisas de família. Tornam-se exíguas, para tanto passado e memória. O espaço nimba-se de uma claustrofobia irritante, por onde a circulação acaba por se tornar difícil.
O acto solene da leitura de um testamento e a venda em leilão do acervo de alguém conhecido, despertam em mim, quase sempre, um semelhante tipo de sensações, mistas de expectativas singulares, melancolia e desconforto físico, difícil de explicar.
A firma de leilões do Correio Velho começou a leiloar, a 4 e termina a 7 de Dezembro de 2018, uma parte do acervo pictórico de Victor Palla (1922-2006), em almoeda anunciada.
E a mesma sensação estranha toma conta de mim...


2 comentários:

  1. Não seria situação que me agradasse assistir à leitura de um testamento,
    mas também sentiria um desconforto, ao pensar que muito do que preencheu
    a vida de alguém vá para outras mãos. É lógico eu sei. Mas rodeada de livros
    de discos, de revistas fico angustiada por não conseguir aliviar este caos
    de que afinal não me quero separar. A melancolia é difícil de suportar, eu sei.

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    1. De uma forma bruta, eu diria que, na audição das últimas vontades, há a tentação de equiparar o valor das heranças à importância real dos afectos. Mas as coisas não são assim tão simplórias...E, com frequência, há compensações diversas, por parte do testador para tentar diminuir alguns notórios desequilíbrios, ou mesmo alguns remorsos íntimos - se ele tiver o sentido de justiça.
      Nem sempre, de geração para geração, os gostos se perpetuam, e por aí começam os problemas, até por que acumulámos demasiadas coisas, ao longo de uma vida. E os espaços de arrumo vão sendo cada vez menores...
      Votos de uma boa noite.

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