domingo, 16 de dezembro de 2018

Oportunidade perdida


Há livros que nos agarram logo nas primeiras linhas. Sirva de exemplo Camilo e as suas Cenas Contemporâneas, que abrem assim:
Os meus amigos de certo não sabem o que é caçar coelhos na neve?
Não admira. ...
Mas não há muitos Camilos. Tenho, no entanto, para mim que o interesse, ou não, de um livro, para o leitor, se esclarece nas primeiras 10 páginas, quando muito ao acabar o primeiro capítulo. Raramente as coisas se alteram radicalmente depois - os dados estão lançados, a relação de agrado ou penoso sacrifício de leitura começa a ser fatal.
Com este A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón (1964), eu fui caridoso: li atentamente até à página 66, apesar das metáforas serem puxavantes (...o meu rubor, que teria bastado para acender um charuto a um palmo de distância...[pg. 30]) e foleiras, muitas vezes, do estilo ser banal, a construção das personagens, muito frágil; depois, comecei a ler salteado e com batota, até à página 78. E agora estou a pensar desistir, por aborrecimento.
Mas estou quase certo de que quem gostou do filme "O Clube dos Poetas Mortos" (1990) e da novela "O Clube Dumas" (1993), de Pérez-Reverte, é muito bem capaz de vir a gostar deste A Sombra do Vento (2001), primeiro livro da quadrilogia muito badalada de Zafón. Como gostaram dele, nas Correntes da Escrita, de 2006, na Póvoa de Varzim. É  tudo uma questão de ar do tempo, de leveza e  tema, de estilo...

8 comentários:

  1. Li todo, comprado por ser uma história de e com livros! Cheguei ao fim, fiquei decepcionada e comentei com o rapaz lá de casa que não percebia a loucura que as "redes sociais femininas" tinham com este livro. Vou ficar coxa :-) já que não vou saber o resto da história (mais três? nem pensar?)
    Bom dia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As editoras investiram no rapaz... e depois têm que recuperar alguma coisa do investimento...
      Entretanto, parece que a grande moda, para as editoras, é publicar textos de blógueres, com um escritor-fantasma por trás, para cerzir aquele português grunhido e mal escrito.
      Qualidade é coisa que só muito raramente se usa.
      Uma boa semana.

      Eliminar
  2. O Zafón tem muitos leitores, mas não é o meu caso. O tema até me interessava, mas o livro é chatíssimo.
    Quanto a Pérez-Reverte não vou dizer mais nada, mas sou fanzíssima. :)
    Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu creio que "O Nome da Rosa", de Eco, continua a ecoar por aí, em imensos epígonos oportunistas... Mas a prosa espanhola actual tem-me enfiado inúmeros barretes. Agora, falam-me de Javier Marías, será que vou fazer as pazes com a ficção castelhana?
      Bom dia.

      Eliminar
    2. Javier Marías e Javier Cercas - para mí, muy buenos. :)
      Bom dia!

      Eliminar
    3. Do primeiro, à cabeceira: "Vidas Escritas".
      Vamos a ver...
      Bom dia.

      Eliminar