sábado, 8 de dezembro de 2018

Cioran e a velhice


A vantagem de envelhecer é de poder observar de perto a lenta e metódica degradação dos órgãos; eles começam a estalar, uns de forma flagrante, outros, de maneira mais discreta. Destacam-se do corpo, como o corpo se vai separando de nós: ele escapa-nos, foge-nos, já não nos pertence mais. É um desertor que nós nem podemos denunciar, uma vez que ele não parte para nenhures, nem se põe, sequer, ao serviço de mais ninguém. (pg. 997)

E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers - 1957/1972 (1997).



Nota pessoal: terminei ontem, cerca das 19h00, a parcimoniosa leitura poupada destes "Cadernos" de Cioran, obra que me levou quase 20 anos a terminar, procurando prolongar o mais possível este diálogo estimulante, que me foi útil e sempre agradável pela diversidade e riqueza das suas reflexões.
Em termos de comparação, poderei dizer que me deu muito mais prazer do que a leitura de "Guerra e Paz", de Tolstoi, que também foi lenta e morosa, mas por outras razões. Porque, bem vistas as coisas, um livro de ficção pode não excluir, também, a reflexão e o pensamento... Embora raramente isso aconteça. Principalmente, nos dias de hoje.

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