terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Mercearias Finas 137


Por muito alternativos que sejamos, ou inovadores na originalidade e maneira de ser, todos temos rotinas, ainda que bissextas. Quando vamos, no fim-de-semana, ao mercado da estrada de Almoçageme, frequentemente no regresso, refeiçoamos em Queluz, até para reencontrar o inamovível e insubstituível Fernando, que já vai nos seus 58 anos, sempre leves, bem dispostos, ágeis e simpáticos dos seus mais de 40 de bom serviço. Antes, eu cumpro o meu indeclinável dever de ir cumprimentar e ver a minha amorável ribeira do Jamor, com os seus patos que, às vezes, se aventuram do Palácio, mas nunca chegam a Belas... A ribeira, por sua vez, é dissimuladora: parece tranquila mas, quando ganha força e poder, pode transformar-se em destruidora e assassina. Como já o foi, no passado.



Desta vez, e como o "Abílio" tem sempre peixe fresco e de confiança, fomos nos filetes de Linguado e nas Pescadinhas contorcionistas, com um malandro arroz de grelos, bem verdinho. Quanto ao vinho, a decisão foi mais lenta. A garrafeira do restaurante já não é a que foi, embora a quinta do Cartaxo, do sr. Abílio, octogenário, continue a produzir tinto, branco e uma aguardente bagaceira, ainda estimáveis, embora de alta graduação. E é por aqui que começa a história...



Não nos apetecia o vinho da casa. Perguntei ao Fernando, que foi avô recentemente, quais seriam as opções, a princípio, de brancos. Referiu-me o banalérrimo JP que eu raramente aprecio pelo excesso de sabor a Fernão Pires. E o Planalto, duriense, que, pouco mais tarde, me referiu já não ter, desculpando-se.
Fomos então para tintos, desmanchando a regra e porque também estava frio.



Falou-me, então, de um Lybra, que tinha sido engarrafado à má fila, por um consagrado produtor do Ribatejo que, tendo comprado as uvas Syrah, ao sr. Abílio da sua quintinha do Cartaxo, o comercializava sob o seu nome, para lhe dar um estatuto maior.
O tinto monocasta era realmente muito bom. O "produtor"-engarrafador, pelos vistos, é que deixa muito a desejar...
Para sobremesa, optámos por Arroz-doce e Maçã assada. E ainda passámos, ao sair, pela "Marianita", para trazer uns Sonhos enriquecidos e umas belíssimas Broas Castelar - que o Natal já anda perto!

8 comentários:

  1. E nós a uma estação de distância :-)
    Ainda bem que a minha terra adoptada não deixou créditos por mãos alheias.
    Bom dia

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    1. Da Henrique Pousão até à Elias Garcia, se estiver bom tempo, até podem dar um passeio, a pé, saudável e semi-campestre..:-)
      Um bom dia, também.

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  2. Fiquei com vontade de lá ir também. Bom dia!

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    1. Queluz tem recantos bonitos. E o restaurante referido tem muito boa cozinha e preços módicos.
      Força!
      E bom dia.

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  3. Claro que não fui surpreendido.
    Nem pelas imagens, nem pela qualidade do texto.
    Mas o de hoje, "tocou-me" especialmente por parecer mais uma crónica ( talvez ) mas com apoio em vocábulos não comuns, mas não metidos a martelo.
    Gostei muito !

    Um abraço.

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    1. Muito grato lhe fico pelas palavras amigas e pela apreciação.
      Quando falamos das coisas, sítios e pessoas de quem gostamos, o coração fala quase sempre melhor...
      Muito cordialmente e com estima.

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  4. Também gostei deste crónica.
    Também já tive a minha época de feira de Almoçageme, mas ia de Cascais até lá, de modo que almoçava no caminho. Outras vezes fazíamos uns lanches-ajantarados num restaurante em Almoçageme (de que não recordo o nome) que tinha (se calhar, continua a ter) um queijo e um presunto magníficos.
    Bom dia!

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    1. A ida vale sempre a pena pela frescura e variedade de produtos hortícolas e de fruta. E eu aproveito para me abastecer de um "Espadeiro" minhoto, semi-rosé, com a apenas 9,5º, e uma bagaceira caseira da zona...
      Bom dia, também.

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