saberás ainda falar? Por onde vinha a voz
entra agora, rouco, o mundo. Levando o ouvido à terra
percutem os tumultos em vez de um coração.
Leva a mão à face: não sentes a caveira?
O tacto descobre o teu redil mais duro
e dos olhos sem fundo desampara-se a visão.
Olha estas paisagens: fieiras de janelas
e árvores de nãos - são assim os dias úteis
entre imagens secas, sereias emboscadas.
Como haver ainda voz para um poema?
Que dirá dos mortos o mês de fevereiro?
Carlos Poças Falcão, in Sombra Silêncio (2018).
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