quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Brandos costumes?


Há, muitas vezes, rótulos que caem em graça e que se colam às pessoas, procurando classificá-las, ou aos países, procurando defini-los, para sempre. À força de os repetir, ficam como dados adquiridos e muito pouco questionáveis. A expressão "Portugal é um país de brandos costumes" é relativamente recente, vem do consulado salazarista. Mas foi ficando...
Se é certo que, de um modo geral, o português é um ser pacato e, às vezes, demasiado resignado, quando lhe sobe a mostarda ao nariz, é tão sanguinário como os chamados e ditos povos violentos. Lembremos, em desabono dos "brandos costumes", por exemplo, o massacre de várias centenas de judeus (e cristãos-novos), em 1506, em Lisboa, que obrigou a uma intervenção enérgica de D.Manuel I para fazer cessar o morticínio. Recordem-se as "façanhas" de Afonso de Albuquerque, na Índia. Os esquartejamentos sanguinolentos dos franceses em fuga, depois da 3ª Invasão, pelos camponeses do norte de Portugal. As dezenas de crimes praticados, no Aqueduto das Águas Livres, por Diogo Alves (1810-1841) que, embora galego, foi instigado pela mulher, portuguesa, Gertrudes Maria, a "Parreirinha". Logo no início do século XX, os crimes da"camioneta-fantasma" (Raul Brandão refere o facto), na noite de 19 de Outubro de 1921, em que foram assassinados alguns ilustres e proeminentes líderes republicanos (António Granjo, Machado dos Santos, Carlos da Maia). Mais perto de nós, os 7 homicídios, em 1987, conhecidos pelos crimes da praia do Osso da Baleia. E, bem perto, o ainda recente familicídio de Beja, em que foram mortas 3 pessoas.
Chegará, para contraprova dos brandos costumes portugueses?
Se as crises nunca foram factores de estabilidade social, nem de ordem pública, já era voz corrente que a criminalidade violenta aumentou, em Portugal, nos últimos anos - e as razões são múltiplas. Por isso, a troika que hoje chegou a Portugal, para mais uma vez fazer a sua fiscalização colonial, deve ser advertida pelos nossos governantes para que "não apertem demasiado", porque a paciência dos portugueses também tem limites. A arrogância, sobranceria e a insensibilidade social poderão ser o rastilho suficiente...

2 comentários:

  1. Não me lembro dos «crimes da praia do Osso da Baleia».
    A Camioneta Fantasma é um dos episódios mais sinistros e horrendos da história portuguesa.

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  2. Foi um tal Jorge, bancário, que além da mulher matou mais 6 pessoas, numa praia, creio, próxima de Mira. Teve pena pesada, mas já foi solto, passados 17 anos, na prisão.

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