Havia ainda "um cheiro salutar e honesto a pão de forno" (como diz Cesário Verde), no interior do lugar, mas notava-se que todos tínhamos acordado tarde. Não fora o perfume excessivo da balzaquiana, que saíu pouco antes de mim, e as frutas expostas nas bancadas exteriores ter-me-iam ficado na memória olfactiva da manhã.
Na tabacaria, concentrada sobre a banqueta, a mulher-a-dias preenchia, esperançada, o euromilhões. Uma velhota afagava com a unha uma raspadinha. Eu comprei tabaco e o jornal.
Um silêncio matinal de domingo enchia a rua - a todos era permitido acordar devagar. A escola da zona, fábrica maior de ruídos nos dias úteis, estava calada e sossegada. Uma empregada de bata lavava, parcimoniosa e lenta, a soleira da entrada. O tempo pascia, tranquilo. Não havia aulas, nem algazarra.
O sol brilhava nítido, no alto. Pacífico entrei, portuguesmente, em casa, na beatitude dos dias sem história - os mais felizes. Despertei, apenas, assustado, com a fotografia da Troika, na primeira página do jornal.
Aaahhh... A paz só ao alcance de alguns, que sabem estar na vida.
ResponderEliminarDesde muito jovem que sonho com uma vida assim, cheia de dias "a la Platero", mas na cidade.
Mas para chegar até aqui foram precisos quase 41 anos de obrigações e contrariedades, mais o "stress" correspondente...Creio que valeu a pena.
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