quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os salteadores da arca encontrada


Tenho para mim (e não estou só, na opinião) que, muitos dos estrangeiros residentes em Portugal, há anos, e que falam o português, fazem-no com sotaque (muitas vezes ridículo e mascavado) para atestar e marcar a "diferença" e, indirectamente, darem a entender que não são portugueses.
Pessoal e subjectivamente, talvez, penso que nem os franceses, nem os espanhóis têm grande aptidão, de uma forma geral, para falar outras línguas, correctamente, para além da materna.
Tive professores estrangeiros que falavam um português escorreito e perfeito, quase não se lhes notando o sotaque. Mas também tive professores que "sotaqueavam" o português, transformando-o na tal linguagem "mista de ervilhaca" de que fala Camões, na sua carta da Índia.
Há dias tive ocasião de ver e ouvir, na TV, um investigador falar de Fernando Pessoa e da sua arca de manuscritos. O seu "português" era deplorável: erros e sotaque acentuado. Muitas vezes, não se pecebia o que ele queria dizer. E perguntei-me, intimamente, se alguém que "trabalha" tão mal o português oral, será capaz e competente para estudar e investigar Pessoa. A menos que o referido estudioso também quisesse marcar a sua "diferença" dos portugueses, através daquele sotaque de outro mundo.

5 comentários:

  1. Richard Zenith? Dizem que é bom "pessoano".

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  2. Afirmativo, MR. Era bom que fizesse exercícios de pronúncia, frente ao espelho, pode ser que lhe apareça mais algum heterónimo, vindo da "arca", e a falar um português mais escorreito. Isto do Pessoa, tem sido o ganha-pão de tanta gente...

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  3. Pegando na questão do ganha-pão pessoano: o que ele diria da nova moda de fazer empreendimentos imobiliários com o seu nome? acho que ele deve andar às voltas no túmulo.

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  4. Realmente, Margarida, isto tem sido um "fartar vilanagem", sobre a obra de Pessoa de que, tirante a "Mensagem" e pouco mais, toda ela é póstuma e discutível, nas diversas versões interpretativas, qual labirinto ou "floresta de enganos". Ele há a versão Edit. Ática/Gaspar Simões..., Edit. Aguilar/ Aliete Galhoz e, ainda, as versões Ivo Castro, Teresa Rita Lopes, Zenith, com a Assírio & Alvim, a América-Europa, etc., todas a cavarem no filão-Pessoa. Eu creio que já são mais do que os 4 Evangelhos, mais o apócrifos do Novo Testamento. Não sei como Fernando Pessoa ainda resiste...

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  5. Errata:
    onde se lê "América-Europa", deve ler-se (Editora)Europa-América.

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