Os manuscritos literários são um mundo fascinante de curiosidade, investigação e interesse, para quem os souber apreciar e conseguir possuir. Estes, que aqui deixo em imagem, foram comprados, por preço em conta, nos finais da década de 80 do século passado e vinham com a identificação de (provavelmente) atribuíveis ao poeta Correia Garção (1724-1772) e tidos como inéditos (que não eram, na realidade, muito embora com ligeiras variantes). Havia, no entanto, alguns textos espúrios, como o repruduzido acima, dado que o conjunto do lote era relativamente volumoso, embora desordenado e diverso. Pelas caligrafias creio que seriam documentos dos séculos XVIII e XIX.
Ocupei-me sobretudo dos dois sonetos (em letra de duas mãos), aqui reproduzidos, e que não constam da impressão original (1778) das obras póstumas do poeta, publicadas pelo seu irmão, em Lisboa, nem mesmo da mais completa e bonita edição de Roma (1888), de Azevedo Castro, da Typographia dos Irmãos Centenari. António José Saraiva, nos Clássicos Sá da Costa (1957), deu-os como apócrifos, muito embora Teófilo Braga os tivesse anteriormente referido e transcrito, atribuindo-os a Garção.
Em 1974, António Cirurgião (Inéditos de Gorreia Garção e de Basílio da Gama no ms. 1842 do ANTT) incluiu-os neste seu opúsculo bem interessante e fundamentado, defendendo também a sua autoria, a exemplo de Teófilo Braga. Assim eu creio, também.
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