quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Recuperado de um moleskine (39)



Para a despedida não havia lugares cativos no salão, mas quatro ou cinco cadeiras pareciam reservadas, por entre a famíla , na primeira fila. Três foram ainda ocupadas até à oração final, e eu presumi que as ausências restantes eram talvez simbólicas ou afectivas. Como, às vezes, pelas mesas de natal, as cadeiras vazias assinalam memórias recentes.
Lígia, pela manifesta silhueta grácil, conseguiu ainda aproximar-me da juventude e, à saída, só consegui dizer-lhe: Até sempre! Sabendo que, provável e fisicamente, seria talvez a última vez que nos cruzávamos na vida. Fixei-lhe o perfil, para memória futura, e encaminhei-me devagar para o orvalho fresco da rua. O táxi esperava-nos à porta.
Concluí, no íntimo, que ninguém sabe dizer adeus a um grande amigo. Como deveria ser.


6 comentários:

  1. Belíssimo texto e a frase final é muito verdadeira. Bom dia!

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    1. Muito obrigado, Margarida.
      Um bom dia, também, para si.

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  2. Também gostei muito do texto !
    É sempre de lamentar a perda de uma pessoa que estimamos.
    Um abraço.

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    1. Obrigado, João Menéres.
      Estas situações vão ganhando novos contornos, mas não abrandam...
      Bom dia.

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  3. Mantemos os amigos que vão vivos na nossa memória! E não sei como me despedir dos que me são muito queridos!
    Boa tarde

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    1. É uma consolação menor, que se vai diluindo de memória...
      Um bom fim de tarde.

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