sábado, 5 de maio de 2012

Um poema traduzido de Aimé Césaire


Com Léopold Sédar Senghor (Senegal, 1906-2001), que ainda tinha nas suas raízes sangue português, Aimé Césaire (Martinica, 1913-2008) é, talvez, dos menos reconhecíveis poetas da negritude, na língua francesa. Neste aspecto e do meu ponto de vista, muito próximos do moçambicano José Craveirinha (1922-2003), na sua relação poética com a tradição e língua portuguesa. Quero eu dizer, quase não há nas suas obras aquela estridência tropical exclamativa, aquela superficialidade exuberante que caracteriza muita da poesia ultramarina, mesmo que escrita em língua europeia. Dito isto, que será polémico, passemos a traduzir, de Aimé Césaire, o poema:

Percurso

Da minha íntima saliva retive líquido
o sangue
impedindo que ele se perdesse por escamas esquecidas
Cavalguei por entre mares incertos
os golfinhos memoráveis
desatento a tudo excepto
no recensear o recife para marcar o amargo
Por porto seguro tenho deuses
reinventei as palavras
Onde desembarquei trabalhei o baldio
escavei o sulco desenhei as leiras
cá e lá sacrificando limite após limite
Ó Esperança a química humilde
da tua amarga estaca

2 comentários:

  1. E talvez pelo que disse, sejam, para mim, os mais legíveis.
    Gostei deste poema que traduziu.

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