A primeira vez que reparei no movimento e estética de uma forma de andar ou caminhar, deveria ter cerca de 8 anos. Essa impressão, agradável, de uma pessoa, por mim estimada, viria a transitar, cerca de doze anos depois, para 2 versos de um poema perdido:
"...o honesto caminhar de mãos nas costas
do norte beira-mar..."
Mas com 10 anos já eu gostava de imitar este andar, de mãos atrás das costas, porque achava que trazia ao movimento do corpo uma elegância acrescida e uma seriedade notória.
Lembrei-me disto, hoje, ao ler no TLS (nº 5693), uma recensão ao livro "Walking in Roman Culture", de Timothy O'Sullivan, feita por Mary Beard. Há, nele, referências a Estrabão que transmitiu, em escrito, que os bárbaros ibéricos teriam achado exótico e inútil o facto de um general romano andar de um lado para outro, para pensar. Para os bárbaros, andar só tinha sentido se fosse para A ir ao encontro de B, ou na guerra, em avanços e recuos...
Na recensão crítica do TLS, também se faz alusão ao facto de, para os romanos, o andar masculino ser, por norma, mais enérgico e rápido, e o caminhar feminino, mais lento. De tal forma que Cícero, ao ver a filha e o genro a passear, achou que a filha andava muito depressa e o genro muito devagar (mollius); e disse para a filha caminhar como o marido, abrandando o passo, e que o genro copiasse o ritmo da filha - mais rápido, portanto.
Na época, o modo de andar era tão importante quanto as parecenças faciais, para reforçar a evidência da paternidade...o que, hoje, nos pode parecer simplesmente uma bizantinice despropositada. Mas, quem sabe?...
Interessantíssimo - como tudo neste blogue. Gostava de ler esse texto.
ResponderEliminarFiquei muito sensibilizado e grato, Margarida.
ResponderEliminarO que têm de bom as recensões críticas inglesas, é que ficamos com uma ideia concreta do que trata o livro. E podemos ajuizar, melhor, se o assunto nos interessa e se o devemos comprar. O que é útil e importante.