Era uma vez...
Daqui a muitos anos, quando já nenhum de nós for vivo, a Galiza amiga voltará a reunir-se com o Portucalense condado, e tudo voltará ao início. Biblicamente, ao princípio voltará a ser o verbo.
Rosalía, comovida, terá longos diálogos com o bom do velho Sá, em Amares. Julio Camba vai cozinhar a 4 mãos com Couto Viana e a irmã do poeta, cantarolando entretanto, há-de ir descascando as batatas. Os pimentos Padrón vão alinhar, gulosos, na mesa de Assis Pacheco e Camilo José Cela, e não haverá esquerda nem direita, mas apenas fraternidade. Até Fraga Iribarne, emocionado mas convivial, há-de partilhar um bom cozido à portuguesa, com Santos da Cunha e com Rui Rio que, bastante menos economicista e, embora liberal, vai apoiar a Cultura, com generosidade e alegria.
A troika será uma infâmia impossível e a moeda não terá circulação, nem será precisa. Poderão trocar-se diospiros por cebolas, ou chouriços por um frango, intermediados por um sorriso amigo, leal e confiante. Martim Codax há-de dizer um poema, acompanhado por adufes, flautas e sacabuxas harmoniosas. Afonso X irá presidir, e o neto Dinis, ainda criança, vai bater palmas, entusiasmado. Acídulo e fresco, um Albariño das Rias baxas refrescará as gargantas. E a noite virá de mansinho para não estragar a alegria do reencontro fraterno e sem fronteiras. E outros países virão juntar-se à festa, trazendo wurst, krakauer, camembert, tokay, pesto...eu sei lá!, para partilhar entre si.
A ideia não é assim tão absurda se pensarmos que a matéria que nos dá substância já existia antes de assumir a nossa forma e continuará a existir, quando de nós restar apenas a lembrança... :-)
ResponderEliminarEu não conseguiria melhor, se quisesse falar da teoria do "eterno retorno", c. a.. Ou dessa continuidade que se perpetua por sentimentos, vontades e razões humanas que hão-de ser, sempre(?), um pouco semelhantes em seres diferentes.
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