terça-feira, 22 de maio de 2012

Escultura e Pintura, segundo Alain



São reflexões porventura polémicas, estas que vou citar e traduzir de Alain, incluídas no seu livro "Système des beaux-arts" (1926), mas, pelo menos, dão que pensar, até para situarmos, melhor, a nossa opinião. Seguem:
"A escultura imita a parte mais real dos objectos, que é a forma, desprovida do movimento e da cor; assim uma estátua, em si, é uma fonte de aparências, mas purificadas; (...) Naquilo em que a pintura se opõe à escultura, uma vez que ela imita, pelo contrário, toda a aparência do momento, traduzindo a forma unicamente pelo contorno sobre um plano, a cor, o claro e o escuro. (...) Assim exprimindo o objecto por um só dos seus aspectos, acaba aí esta procura de aparências (...) Tal é a primeira abordagem da pintura, e não é pouco. A escultura deixa-nos mais livres, e aconselha-nos apenas; o pensamento regula aqui a atenção, escolhe a hora e o ponto, domina enfim as aparências. Em vez disso, diante da pintura é a aparência que nos cerca e nos faz parar. Este cerco (estético) que vem de fora é já uma emoção; assim as variações do sentimento contido são de alguma forma convocadas; (...) é como uma cerimónia vivida em solidão. A estátua é mais familiar. ..."

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