quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ortega y Gasset


J. Ortega y Gasset (1883-1955), de que hoje passa mais um aniversário do nascimento, foi (creio que já não será hoje) um nome com importância no estudo das Humanidades, em Portugal, aqui há 50 anos. Fazia parte, quase sempre, das bibliografias universitárias e era citado frequentemente. O excerto, do filósofo espanhol, que iremos traduzir, tem uma particularidade adicional. Terá sido escrito em Lisboa, quando cá esteve, em 1943, e é retirado de "Origen y epílogo de la filosofía" (1960), uma pequena obra de cerca de 100 páginas, que só foi editada postumamente. Por ela se vê, justificadamente, o quanto a filosofia (bem como a poesia) está ligada à linguagem. Melhor, ao conhecimento profundo da linguagem. Qualquer destas disciplinas requer uma escolha de palavras , muito atenta, uma espécie de dialecto próprio no caminho da verdade e no trajecto pessoal do artífice.
Segue, então, o excerto de Ortega Y Gasset, em tradução para português:
"...O dizer é uma espécie de fazer. Que é o que há a fazer ao terminar a leitura da história da filosofia. Trata-se de evitar o capricho. O capricho é fazer qualquer coisa entre as muitas que há para fazer. A isso se opõe o acto e o hábito de eleger, entre as muitas coisas que se podem fazer, precisamente aquela que reclama ser feita. A esse acto e hábito do recto eleger chamavam os latinos primeiro eligentia e depois elegantia. É, talvez, deste vocábulo que vem a nossa palavra int-eligencia.
De qualquer forma, Elegância devia ser o nome que daríamos ao que torpemente chamamos Ética já que esta é a arte de eleger a melhor conduta, a ciência do que fazer. O facto da palavra elegância ser das que mais irritam hoje o planeta é, também, a sua melhor recomendação. Elegante é o homem que não faz nem diz qualquer coisa, mas apenas que faz o que deve fazer e diz o que deve dizer. ..."

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