sexta-feira, 25 de maio de 2012

De Eugénio de Andrade, "To a Green God"


Trazia consigo a graça
das fontes, quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens, quando desce.

Andava como quem passa,
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Nota: este poema está incluído no livro "As Mãos e os Frutos" (1945-1948). Na sua extrema simplicidade e no seu poderoso movimento rítimico, é, para mim, um dos grandes poemas de Eugénio de Andrade. E de toda a poesia portuguesa.

3 comentários:

  1. Fiquei curiosa sobre a fotografia...

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  2. Tanto quanto consegui apurar, Isabel, a foto será de um tal sr. Sangibm (que consta da etiqueta do poste), indiano, que disponibiliza algumas das suas fotos na Net.

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