Já aqui falei e transcrevi um pequeno excerto de Aquilino Ribeiro descrevendo Aljustrel, da obra "Brito Camacho", que escreveu em parceria com Ferreira de Mira. Sobre o político alentejano, Aquilino diz-nos que teve vários amores, que casou e teve uma filha que morreu cedo, bem como a Mulher. E voltou depois a enamorar-se, mas de outra maneira. Mas para falar das idades do amor, será melhor dar a palavra, de novo, a Mestre Aquilino:
"...Talvez que o melhor da sua crónica amorosa date da época juvenil, já que todos os encantos se associam na primavera. Os primeiros amores do homem, exercidos em obediência a mandato, não têm história; podem ser profundos, mais ou menos espontâneos, mas não são nada complicados; não há língua que os exprima dignamente, a não ser o assobio do melro. Nessa idade têm-se belos dentes, bom estômago, e em pequeno grau o sentido olfativo. Da mesma maneira que se come sempre com apetite um bom pitéu, sem se ligar importância à baixela, ama-se aqui e além, em qualquer latitude, sem atender a se é loira, morena ou consoante o divino modêlo dos nossos sonhos. Ama-se sem grande afêrro sentimental, embora brigue com os juramentos trocados, porque no fundo não se ama uma mulher, ama-se simplesmente a mulher. Desenganos e mágoas de amor voam depressa e aos quatro cantos como as pétalas do bule-bule. Passam os anos, acaba por amortecer o instinto da espécie, a imaginação inflora, como as árvores que ao fim dum outono benigno se julgam na primavera, e acontece virem cantar nela os ledos e amorosos pássaros da mocidade. Ah, mas o aroma que exala é a cadaverização dos verdadeiros eflúvios e o frescor que derrama todo de ocaso! Mas deixá-lo, sobrevive, enfeita-se de gomos, enfolha, a sua sombra banha a alma como um crepúsculo suavíssimo e chama-se saudade. ..."
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