Se o infeliz utente não tiver, ou tiver perdido o seu Médico de Família, o procedimento a levar a cabo, é mais ou menos este:
a) Dirige-se ao Centro de Saúde, em que se integra, e faz uma inscrição; ser-lhe-á marcada a data de uma consulta para cerca de um mês e meio depois - dando-lhe um papelinho comprovativo. Informam-no, na altura, para que no dia aprazado chegue um pouco antes das 8h00 da manhã, para efectuar uma reinscrição.
b) No dia aprazado, o utente chega 15 minutos antes, mas já há cerca de 40 companheiros, aguardando, no vestíbulo de entrada e na rua, em fila desordenada. Metade terá mais de 60 anos, mas há apenas um banco de madeira com quatro, sentados. Dois ou três folheiam o jornal que compraram, alguns contemplam os azulejos do séc. XVIII, nas paredes, que representam movimentadas cenas de caça (veados, javalis, lobos...) da época. É preciso dizer que este Centro de Saúde está instalado num velho palácio lisboeta que já conheceu melhores dias...
c) Dois minutos antes das 8h00, um Segurança fardado desce as escadas, com um rolo numerado nas mãos. Outro Segurança acompanha-o, na rectaguarda - talvez seja guarda-costas... Os utentes aproximam-se, nervosamente, como pombas a quem vai ser dado milho ou migalhas de pão. Recebem, então, os papelinhos afortunados.
d) Na posse do precioso número, o utente sobe as escadas e dirige-se para a Secretaria a fim de efectuar a nova inscrição. Mas o computador não pega e o burocrata, atrás do balcão, começa a impacientar-se, enquanto o utente espera, calado e resignado. Finalmente, cerca de 5 minutos depois, o computador começa a trabalhar e a inscrição é feita. Mais um papelinho, pedem-lhe 5,00 euros e revelam ao paciente o misterioso nome do médico que o irá atender mas...só 5 horas, depois, ou seja, às 13h00. E dizem-lhe para chegar um bocadinho antes. Vamos a ver...como diz o cego.
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