sábado, 14 de maio de 2011

Se não fossem os gostos, que seria do amarelo?


Os prémios habituam-nos, também, cada um por si, a um determinado perfil. Na galeria do Prémio Camões, couberam Torga, Eugénio, Sophia. E ainda: Melo Neto e Craveirinha - obras feitas, idades provectas. Não sendo um jovem, Manuel António Pina vai a caminho dos 68 anos, foi uma escolha inesperada, e ousada por parte do juri que atribuiu o prémio de 2011. Eu teria preferido Fernandes Jorge ou Gastão Cruz. Ou António Franco Alexandre. Não esquecendo que, apesar de tudo, ainda estão vivos: Ramos Rosa e Pedro Tamen. E percebo que tenha ficado de parte o maior: Herberto Helder - que sempre recusou prémios. São todos eles, talvez, demasiado discretos e Manuel António Pina expõe-se mais: feitios... Do Poeta premiado li os 3 primeiros livros e deu para ver que era uma voz original, mas que não fazia o meu gosto. Mas saúda-se sempre um prémio à Poesia. E aqui o faço, com um poema do seu primeiro livro (Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde, 1974), com o título "Literatura":

Literatura incrível esta
que a si própria se escreve
Descobri o movimento perpétuo
mas como poeta não saí do mesmo sítio

Ociosidade de modo que és minha
- Sem ser este, o silêncio que
pude durou 3 quartos de hora
num quarto cheio de homens perguntando

Nessa altura (em 1965), eu estava
metido nisto até ao infinito
Agora trabalho um pouco de fora para fora
Com de vez em quando uma palavra demasiada

5 comentários:

  1. Achei esta escolha um bocado estrambólica. Se queriam alguém mais novo, também me parecia mais adequada a escolha de um dos três que refere, de que gosto.
    Mas o Ramos Rosa merecia-o.

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  2. O que conheço melhor da obra de MAP são os seus livros para crianças - o que também não deixa de ser estrambólico. :)

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  3. Foi um prémio um bocado surpreendente, ainda para mais por maioria, logo após 1/2 hora.

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  4. Da obra de MAP, o que conheço melhor são as crónicas do JN, que aprecio, sobretudo pela técnica de escrita, a capacidade de dizer muito por poucas palavras. A poesia conheço muito mal, apenas um poema ou outro que vou apanhando aqui e ali, como um, de que gostei bastante, e que encontrei aqui:
    http://aduplavidadev.blogspot.com/2011/05/nao-o-sonho.html

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  5. Não está em causa, c.a., a qualidade da poesia de MAP, eu é que não aprecio muito o estilo dele, embora também goste das crónicas, quando as leio.

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