terça-feira, 31 de maio de 2011

O refrão e a máscara


Repetimos, porque gostamos. Ou quando gostamos - é uma verdade de La Palice, obviamente. E começa logo na infância. A um dos meus filhos li, vezes sem conta, à noite, a história "Berliques-Berloques", da colecção Joaninha (Contos de Encantar), muito embora ele já a soubesse, quase, de cor. Estava sempre a pedir que eu lha relesse. Mas ria-se, repetidamente, e com vontade natural. Desde os refrãos das cantigas trovadorescas, aos slogans publicitários e às repetitivas palavras-chave das piadas chungas ou das canções mais pimbas, o ouvinte está sempre à espera de "Ó pr'a ele!" ou do "pisca! Pisca!" banal, para bater palmas.
Mas há uma altura da vida em que o passivo auditor se cansa...
Ainda me lembro de Medina Carreira dizer (era ministro das Finanças), nos anos 80, que por aquele andar e gastar, qualquer dia, em vez de andar de automóvel, teríamos de andar de burro. Não chegamos a tanto, felizmente. E lembro-me, de há muito, dos apocalípticos vaticínios de pitonisa de Pulido Valente (aliás, pseudónimo, que o nome é muito mais ruano), "vago" leitor universitário na Inglaterra, espumar fel e vinagre e augurar o Inferno para o futuro português. Ainda hoje, estes profetas vomitam o que foram e disseram. Porque ficaram escravos das máscaras pessoais que criaram. Continuam a ser pitonisas da desgraça apocalipsando o futuro, e espumando fel.
Quando os ouço ou leio já sei o que vão dizer, mudam apenas, ligeiramente, os temas ou pessoas - mas vão dizer mal. Comecei, com a idade, a ficar farto de os ouvir, sempre no mesmo registo e com a mesma máscara puritana, moralista, judaico-cristã. Refrão por refrão, prefiro ir reler o "Berliques-Berloques", rir-me um pouco, desafiar o fatalismo doentio, e adormecer sossegado. Como fazia o meu filho mais novo...

6 comentários:

  1. Como história, é bem interessante!

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  2. Não há paciência para essa dupla. E o Medina Carreira tem mesmo uma cara desagradável, aprece que nos quer comer por não fazermos o que ele diz.
    O VPV é tarado.

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  3. O Vasco Valente Correia Guedes é tarado, mas às vezes tem graça; o outro deve estar numa depressão constante.
    Eu, pelo menos, se pensasse como ele já me tinha suicidado.
    Às vezes via um programa na tv com o Medina Carreira e o Nuno Crato. Deixei de o ver porque já não havia pachorra. Se ele não fosse tão derrotista e tão "lastimoso", talvez fosse mais ouvido.

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  4. A "choraminguice" fatalista acaba, sempre, por cansar...

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