1. Gastão Cruz (1941)
A boca equivocada é a
dos versos
oculta na folhagem da linguagem
Novamente se enreda
no abrupto
crepúsculo de folhas esmagadas
a fala restaurada
in Campânula (1978)
2. João Miguel Fernandes Jorge (1943)
Parti para o movimento da água
para o nome deste barco
premeditado incêndio de um corpo
de vigília e festas.
A aspereza é o nome
o acordado corpo
a incerteza o escreve.
in À beira do mar de Junho (1982)
3. António Franco Alexandre (1944)
...entrar de repente pelos olhos adentro e escancarar
as árvores: mas aquilo que amaste perdura.
junto da água morna os animais aguardam o ruído
vegetal da noite, e as luzes bocejam
a mansidão das pernas esticadas: o amor
não tem tempo, e dura no que amaste.
Dura de repente nos olhos abertos e
a água que respira no flanco dos animais
bocejando devagar a chegada da noite e das
redes e os passos mornos dos caçadores,
e as luzes escancaradas do silêncio. ...
in Sem palavras nem coisas (1974)
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