quarta-feira, 11 de maio de 2011

Coscuvilhice Nobre


Aqui há um ou dois anos, em diálogo com um Amigo, disse-lhe, em tom entre brincadeira e provocação, que o gosto pela leitura era uma espécie de coscuvilhice nobre - referia-me sobretudo à ficção literária. Há cerca de uma semana, no alfarrabista que mais frequento, deparou-se-me uma boa centena de livros ingleses, na sua maioria de Correspondência de britânicos notáveis: políticos, aristocratas e escritores. E pensei, na altura, que ler correspondência de outrem era essa tal coscuvilhice nobre elevada ao mais alto grau. Folheei vários volumes e separei alguns, para ver com mais detalhe. Eram todos de boas edições da MacMillan, Oxford Press, etc., publicados pouco antes e até pouco depois da II G. Guerra (1937-1946, principalmente). Acabei por comprar os "Journals of Dorothy Wordsworth", em 2 volumes (1941), e "The Letters of William and Dorothy Wordsworth" (1937-39), em 5 tomos espessos. Na minha avaliação, terão pertencido a um súbdito inglês que, possivelmente, se teria radicado em Portugal, por cá morrendo. E que teria um fraco pela noble gossip de que eu falara ao meu Amigo. Escolhi a família Wordsworth, não tanto porque eu seja um incondicional de William Wordsworth, mas por haver na Correspondência muitas cartas dirigidas a Coleridge, que é um poeta inglês por quem me interesso. Nos "Diários" da Irmã de Wordsworth, longo tempo inéditos, há, no início um prefácio interessante ( de E. de Selincourt) de que vou transcrever as primeiras palavras: "Dorothy Wordsworth is probably the most remarkable and the most distinguished of English writers who never wrote a line for the general public. «I should detest», she said «the idea of setting myself up as an author»; and throughout her life, though a pen was often in her hand, and her unique gift was fully recognised by a wide circle of friends, ..."
Posso, talvez, concluir que Dorothy Wordsworth temia a coscuvilhice nobre dos seus futuros leitores...

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