terça-feira, 31 de maio de 2011

A última noite de Maio


Os dias crescem ainda, pelo azul dentro, até à noite. As cortinas agitam-se, ao de leve. As rolas rasgam o ar, num voo firme, a não mais de um metro, uma da outra. Depois, na mesma árvore, pousam horizontalmente paralelas, e tranquilas. Mais tarde ouviu-se uma lenga-lenga curiosa, balbuciante mas repetitiva. Uma voz masculina parecia dizer: "Só quando já for noite é que regresso!" Seguiu-se um choro miúdo, desamparado. Já os pássaros mais pequenos recolhiam às árvores de folhagem mais espessa, porque estava frio. Nessa altura, o melro ainda cantava. Mas só eu fiquei na varanda, porque tinha companhia. Fui só buscar mais tabaco e rebater a bebida - a noite ainda estava uma criança. E, embora estivesse fresco, eu queria acompanhar Maio até ao fim. A noite cerrou, agora.

P.S. (tardio) para JAD: em nome do rigor e da lua, só me resta citar Simenon que, a propósito de ficção, dizia - "Sou verdadeiro, mas não sou exacto."

2 comentários:

  1. Sabe que este governo de bárbaros resolveu permitir a caça aos melros? Esta, para mim, consegue ser ainda pior que um qualquer acordo com uma qualquer «troika». Não lhes perdoo...

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  2. Não sabia, e acho monstruoso. Se ao menos se preocupassem com a proliferação desordenada dos pombos, na cidade, essa sim, algo perniciosa...Não lembra ao diabo!...

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